Pesquisar
Close this search box.
O Rei da Comédia (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

O Rei da Comédia

Avaliação:
8/10

8/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

“O Rei da Comédia”: Scorsese e a frustração revisitada

Em “O Rei da Comédia”, Martin Scorsese revela um dos últimos suspiros da geração Nova Hollywood. O filme retrata a sua temática amarga como uma falsa comédia, e revela a insensatez dos fãs exaltados de celebridades. E, também, como essas pessoas famosas pouco ligam para eles e para os aspirantes à fama. Logo de cara, a inversão dos papéis típicos dos atores Jerry Lewis e Robert De Niro já quebra a expectativa do público.

A trama

De Niro é Rupert Pupkin, um homem de 34 anos. Solteiro, ainda vive com a mãe e sonha em virar comediante de sucesso, tal qual o astro Jerry Langford, vivido por Lewis. Então, na saída de seu programa, Pupkin invade o carro de Langford. E, para se livrar da companhia indesejada, o astro diz-lhe que ligue para sua secretária para essa agendar uma oportunidade de ele mostrar seu trabalho. Porém, Pupkin vive de fantasias, e essa falsa promessa parece ser a melhor chance de sua vida. Logo, ele levará suas esperanças até as últimas consequências.

Em “O Rei da Comédia”, Jerry Lewis comprova, para quem ainda duvidava, que é um ator com muitos recursos. De fato, sua feição amarga contrasta radicalmente com o que mostrou em sua filmografia cômica. Em nenhum momento do filme, ele sorri. Enquanto isso, o tenso Robert De Niro, pelo contrário, beira o caricato em um personagem ingenuamente sonhador, revelando sua veia humorística.

Assim, a inversão de papéis entra repentinamente em uma cena em que os dois protagonistas conversam em um restaurante. Esse trecho traz Pupkin como o famoso comediante e Langford agradecendo por uma oportunidade que este lhe garante. A farsa se revela quando é introduzido um corte seco onde Pupkin continua o diálogo com outra roupa, em outro local. Logo, percebemos que ele está em sua casa, fantasiando tudo, e a voz da sua mãe (que não aparece) o chama, gritando, de forma engraçada. Sob certo aspecto, é uma sequência que possui muito do humor de Woody Allen. Principalmente pela presença de uma mãe dominadora, tema recorrente em sua obra. De fato, o filme cita Allen, inclusive, como um dos famosos que assinaram o livro de autógrafos de Pupkin.

Sobrevida à Nova Hollywood

Na verdade, Scorsese retoma algumas inovações de sua geração, permitindo uma sobrevida à Nova Hollywood. Nesse sentido, os créditos na introdução do filme surgem no instante em que a imagem congela mostrando a mão de Masha no vidro. dentro do carro de Langford. Enquanto isso, Pupkin aparece do lado de fora, quase encoberto. Ou seja, são os dois losers da estória, que se aproximam da celebridade mas não conseguem nada dela. Além disso, Scorsese imita Godard ao filmar nas ruas de uma grande cidade, enquanto as pessoas ao redor olham para os atores e para a câmera. Depois, coloca a questão da veracidade desses curiosos. Afinal, eles podem ser apenas extras devidamente contratados.

Alienação

Aliás, há uma cena muito representativa da alienação do personagem de De Niro. Ele construiu em sua casa um falso palco de programa de televisão, com fotos em tamanho natural de Liza Minelli e Jerry Langford em poltronas e interagindo com Pupkin. E, na grande parede à frente, está um painel com pessoas numa plateia. Então, o pretenso comediante apresenta seu show para essa imagem estática. Essencialmente, o vazio de sua existência fica aparente nessa cena. A câmera se afasta de Pupkin, enquanto ele continua seu ato tendo como testemunhas as frias paredes de metal inox dessa sala.

Além disso, “O Rei da Comédia” alterna climas. Da amargura da presença de Langford nas telas, ao humor quase pastelão de Pupkin fugindo dos seguranças no escritório do famoso comediante e a tensão da bomba relógio prestes a explodir que De Niro possui em sua persona. Sob outro aspecto, a câmera de cima para baixo na cena em que Langford é amarrado aproxima Pupkin do violento Travis Bickle de “Taxi Driver” (1976), outro fracassado disposto a ir até as últimas consequências. Nesses dois filmes de Scorsese, o protagonista vivido por De Niro alcança a fama pelos motivos errados, numa dura crítica à mídia sensacionalista.


O Rei da Comédia (filme)
O Rei da Comédia (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo