“10 Segundos Para Vencer” é um raro filme brasileiro sobre boxe, tema que já rendeu clássicos do cinema americano. Por exemplo: “Touro Indomável” (1980), “Rocky: Um Lutador” (1976) e “Menina de Ouro” (2004).
Esta cinebiografia revive a história de Éder Jofre, o maior boxeador nacional. Jofre é o único brasileiro campeão mundial, em duas categorias, peso galo (1960) e (1973).
A caprichada produção parte da pré-adolescência de Éder Jofre, quando, por volta dos dez anos, testemunhou o fracasso no pugilismo do irmão mais velho, Silvano (Ricardo Gelli). Apesar da dedicação de Kid Jofre (Osmar Prado), o pai e treinador, Silvano não levou a carreira a sério. Isso e o câncer do outro irmão, Doga (Ravel Andrade), serviram de lição para Éder, que decide entrar para esse esporte com afinco.
Então, o filme salta anos no tempo até o momento em que o foco de Éder se divide entre os estudos em desenho técnico, e Cida (Keli Freitas), a namorada que depois se tornaria sua esposa. Apesar desses dilemas, que o acompanhariam por toda a vida, Éder se tornou um boxeador vencedor, graças à obstinação do pai treinador.
Pouca ação
Já o espectador que espera um filme de ação, com muitas lutas, poderá se decepcionar um pouco. “10 Segundos Para Vencer” é mais “Touro Indomável” do que “Rocky: Um Lutador”. Seguindo a trilha de Martin Scorsese, o diretor José Alvarenga Jr. dedica a maior parte do longa-metragem na caracterização dos personagens principais, Éder e Kid Jofre, e no relacionamento conflituoso entre eles.
O boxe não preenchia os anseios do lutador, frustrado por não ter seguido os estudos e suscetível às influências opostas do pai e da esposa, que queria que ele abandonasse o ringue. Dando ouvidos à mulher, ele opta por uma pausa nas lutas, mas fica perdido, sem objetivo na vida. Kid Jofre é a figura forte que o torna capaz de suportar todos os sacrifícios para ser um campeão. Em especial, o sacrifício sobre-humano para emagrecer e se encaixar na categoria dos galos, fato exaustivamente explorado na tela.
“10 Segundos Para Vencer” exibe três lutas de Éder no ringue, muito bem coreografadas e que colocam o espectador dentro da luta, com a câmera acompanhando os movimentos dos pugilistas de perto. No entanto, a emoção que esses eventos provocam não exploram o seu potencial pleno. Afinal, desperdiçam outros embates substituindo a reconstituição por reproduções de cinejornais produzidos pela Atlântida, inclusive repetindo, desnecessariamente, a vinheta de abertura.
Dessa forma, o filme corre o risco de quebrar a identificação do ator Daniel de Oliveira com o pugilista, porque essas cenas de noticiário revelam a imagem real de Éder Jofre, diferente do seu intérprete. Além disso, “10 Segundos Para Vencer” ainda perde tempo mostrando uma luta em que Éder enfrenta um presidiário dentro da penitenciária, fato interessante mas que poderia ser exibido rapidamente.
Flash-forward
O prólogo coloca o espectador à frente da história que será contada em flashback, ao capturar Éder no vestiário antes da luta pela disputa do cinturão de peso pena. Quando o roteiro alcança esse momento, já na parte final, o filme repete sem necessidade várias cenas desse prólogo, e são as mesmas tomadas, e não outras com enquadramento diferente.
Por outro lado, as interpretações são soberbas. Daniel de Oliveira, que já viveu anteriormente o cantor Cazuza, assume novo papel de uma celebridade real e o faz com naturalidade, com o diferencial de ter preparado o físico para exibir os músculos de um pugilista. Porém, o ator tem a infeliz incumbência de personificar uma figura que quebra a expectativa do público. Isso porque o herói do ringue demonstra uma personalidade fraca, que não consegue nem se blindar do egoísmo da esposa que o quer em casa o tempo todo, afastado do ringue.
Assim, seu personagem é o oposto de Kid Jofre, o pai obstinado cujo forte caráter molda Éder para ser o campeão que foi. Esse pai e treinador é interpretado com garra por Osmar Prado, dono das cenas mais emocionantes do filme. Aliás, que justificam seu prêmio de melhor ator no Festival de Gramado de 2018. Além dele, outro premiado neste festival foi Ricardo Gelli, como o coadjuvante Silvano, que brilha na primeira parte da história.
Enfim, esses prêmios de Gramado para os intérpretes refletem perfeitamente o que “10 Segundos Para Vencer” pode oferecer. O filme tem sua dose de ação, mas é primordialmente um drama sobre o relacionamento entre pai e filho.
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Ficha técnica:
10 Segundos Para Vencer (10 Segundos Para Vencer, 2018) Brasil 114 min. Dir: José Alvarenga Jr. Rot: Thomas Stavros, Patricia Andrade, José Alvarenga Jr. e Marcio Alemão. Elenco: Daniel de Oliveira, Osmar Prado, Ricardo Gelli, Kelli Freitas, Sandra Corveloni, Ravel Andrade, Luti Angelelli, Victor Laplace.
Imagem Filmes
Trailer:
Assista a coletiva de imprensa com elenco e equipe do filme:
Assista: Éder Jofre fala sobre o filme 10 Segundos Para Vencer