O filme canadense 14 Dias 12 Noites afirma que somente com o perdão se curam as mágoas.
E o diretor Jean-Philippe Duval imprime um tom sóbrio, até respeitoso, para abordar esse tema. Por isso, usa pouco as palavras para contar a estória. Ao invés, prefere comunicar através das imagens e deixa a cargo do espectador a prazerosa montagem do seu quebra-cabeças.
A história
Nesse intuito, 14 Dias, 12 Noites se inicia com um parto em casa no Vietnã, em 1990. Logo depois, o bebê que nasce é entregue a um orfanato, juntamente com uma generosa quantidade de dinheiro. E a senhora que entrega a criança exige uma condição: a de que ela seja adotada por um dos “bárbaros”. Na verdade, ela se refere a algum dos invasores estrangeiros que provocaram tantas mortes durante as guerras do Vietnã e da Indochina. Pois esta é uma das mágoas destacadas no filme.
Depois, em 2008, a canadense Isabelle desembarca em Hanoi para encontrar as origens da sua filha adotiva, morta recentemente em um acidente. Logo, descobre quem é a mãe biológica dela. Mas, sem lhe dizer nada, Isabelle a contrata para um tour pela região, e se tornam confidentes.
Na verdade, o destino trágico de Clara, a filha adotiva de Isabelle, é contado gradualmente. E através de flashbacks curtos, distribuídos ao longo dos dois primeiros terços do filme. Dessa forma, essa revelação se alinha com os esforços de Isabelle para conter sua emoção. Afinal, ela ainda não tem coragem para revelar à sua guia Thuy que ela adotou a filha dela. Contudo, conforme a intimidade entre as duas aumenta, fica evidente que será inevitável contar esse segredo.
A alma de Clara
Nesse ínterim, há um momento crucial nesse processo. Enquanto Isabelle acende um incenso para a memória de Clara, o flashback, enfim, revela o momento de sua morte. E faz isso com muito estilo e respeito. Na cena, vemos a garota desacordada na neve, e a câmera vai subindo até o céu, como se fosse sua alma.
Com esse trecho, o filme sente que o espectador já está pronto para o clímax dramático. Finalmente, Isabelle conta a Thuy que adotou a filha dela, e que ela está morta. E ela confessa sem coragem de olhar de frente para a mãe biológica, em uma cena longa. Dessa maneira, a situação se torna muito incômoda, ainda mais com o rosto de Isabelle tentando segurar o choro, mas já tomada pela tristeza. Surge, então, a mágoa em Thuy, pelo fato de Isabelle ter se aproximado dela sem contar a verdade.
Por fim, a conclusão de 14 Dias, 12 Noites apresenta uma corrente de perdões. E que atinge a avó de Thuy e, finalmente, a própria Isabelle. Apesar de ser um fechamento esperado, ele faz parte da mensagem do filme. Definitivamente, a proposta é estimular o perdão, em especial num país cujo passado recente foi vítima de barbaridades nas guerras. Afinal, sem o perdão, as feridas nunca se fecham.
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Ficha técnica:
14 Dias, 12 Noites (14 jours, 12 nuits, 2019) Canadá. 99 min. Direção: Jean-Philippe Duval. Roteiro: Marie Vien. Elenco: Anne Dorval, François Papineau, Leanna Chea, Hiep Tran Nghia, Tranh Thi Le Hang, Ngoc Thoa.
Assista ao trailer original.
Nota: assistimos a esse filme nas sessões da THE WRAP AWARDS & INTERNATIONAL SCREENING SERIES.