15h17: Trem Para Paris é fruto da vocação de Clint Eastwood para filmar ideias audaciosas. Dela surgiu a inspiração para filmar Cartas de Iwo Jima (Letters From Iwo Jima) e A Conquista da Honra (Flags of our Fathers), lançados simultaneamente em 2006 relatando a Segunda Guerra Mundial. O primeiro sob o ponto de vista dos japoneses e o outro dos inimigos americanos.
Em 15h17: Trem Para Paris conta a real história de três americanos que agiram heroicamente para conter um terrorista em um trem em 2015, na França. A ousadia se encontra em escalar os próprios heróis para interpretar os seus papéis no filme. Essa opção talvez permita esse longa-metragem despertar algum interesse para o público que não é um patriota estadunidense.
No início, acompanhamos a infância desses três amigos que se tornariam heróis homenageados pelo presidente francês. Spencer Stone é um menino gorducho que não gosta de estudar e que adora os militares – anda com roupa camuflada e possui um pôster de Nascido Para Matar (Full Metal Jacket, 1987), de Stanley Kubrick, em seu quarto. Seu amigo de bagunça na escola é Alek Skarlatos, também admirador das forças armadas dos EUA. Ambos são filhos de mães separadas e muito religiosas. Então, os dois fazem amizade com o esperto e charmoso Anthony Sadler, frequentador assíduo da diretoria na mesa escola.
Já adultos, os três continuam amigos, apesar de Alek ter se mudado para viver com o pai. Eventualmente, os três resolvem viajar juntos pela Europa, para se divertirem. Quando pegam o trem de Amsterdã para Paris, enfrentam corajosamente um terrorista fortemente armado que pretendia matar muita gente na viagem.
Reconstituição
A caracterização dos três protagonistas ocupa a maior parte do filme, com maior dedicação a Spencer Stone. A sequência de ação surge apenas depois de uma hora de exibição, com exceção de alguns flashes que antecipam esse trecho. Essa opção narrativa, somada à utilização dos próprios rapazes para interpretarem a si mesmos, aproxima o filme 15h17: Trem Para Paris de uma reconstituição típica de documentário feito para a TV.
Contudo, mesmo dedicando muito tempo à construção dos personagens, estes ainda continuam rasos. Afinal, os três personagens centrais ganham retratos caricatos, como aqueles que os telejornais costumam adotar para conseguir engajar rapidamente a empatia do público. Stone, por exemplo, é o rapaz fortão não muito esperto, que por não ser muito inteligente não consegue passar nos exames para a divisão militar que almeja, sendo obrigado a escolher outra. Obviamente, o filme desembocará no batido clichê do perdedor que vira herói, salvando muitas vidas.
Antes do final, o ritmo cai ainda mais no longo trecho do discurso do presidente francês François Hollande ao condecorar os três heróis e mais um médico que ajudou no trem. A cena mistura vídeos reais com encenação, mostrando todo esse cerimonial. Com certeza, Clint Eastwood quis homenagear os heróis americanos, mas o apelo emocional fica anos luz atrás da condecoração de Star Wars, Episódio IV: Uma Nova Esperança (Star Wars, 1977).
Enfim, 15h17: Trem Para Paris talvez tenha apelo patriótico forte junto aos cidadãos dos EUA, que se encherão de orgulho por seus três compatriotas – um civil e dois militares – terem salvado muitos franceses. Porém, o filme apresenta pouca ação, personagens caricatos e só interessa por usar os próprios heróis como atores.
Ficha técnica:
15h17: Trem Para Paris (The 15:17 to Paris, 2018) EUA, 94 min. Dir: Clint Eastwood. Rot: Dorothy Bliskal. Elenco: Alek Skarlatos, Anthony Sadler, Spencer Stone, Ray Corasani, Judy Greer, Jenna Fischer, Irene White, William Jennings, Bryce Gheisar, Stephen Matthew Smith, P.J. Byrne, Paul-Mikél Williams, Thomas Lennon, Tony Hale.
Warner Bros
Trailer:
Assista: Clint Eastwood e elenco falam sobre “15h17: Trem Para Paris”