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1976 (poster do filme)
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1976

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

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Crítica | Ficha técnica

O filme 1976 expressa, através de criativos recursos do cinema, o impacto que uma ditadura causa naqueles que não abraçam o regime. A ditadura em questão é a chilena, durante o governo de Augusto Pinochet. O enredo mostra como a dona de casa de classe média Carmen (Aline Küppenheim) troca os seus limitados valores burgueses pela perspectiva dos opositores do governo. Isso acontece quando ela passa uma temporada na sua casa de praia, longe do marido médico que permanece trabalhando em Santiago. Logo que ela chega ao local, um padre, velho conhecido seu, lhe pede ajuda para cuidar de um jovem revolucionário de 24 anos que está ferido. De forma clandestina, ela recupera o rapaz e tenta perigosamente viabilizar a sua fuga.

Analogias

A trama é interessante, mas o modo como a diretora Manuela Martelli, em sua estreia em longa de ficção, transforma isso em filme é que a torna especial. A abertura e o fechamento da obra, por exemplo, trazem uma bela metáfora com as cores. Assim, começa com Carmen lidando com uma rotina essencialmente burguesa: encontrar o tom certo da mistura de tintas para pintar a casa da praia, que está reformando, com a mesma cor de um cartão postal que trouxe de Veneza. Manuela Martelli, a diretora, posiciona eficientemente a câmera, e destaca o azul se misturando ao rosa na lata de tinta. Em seguida, um recorte revela a tinta rosa pingando no sapato azul da protagonista. Simbolicamente, isso prepara o espectador para uma mudança no cotidiano dessa senhora. Para fechar essa analogia, na parte final há outra alusão a esse tipo de mistura. É quando Carmen faz um chantily na batedeira e coloca na mistura branca um pouco de corante vermelho.

Da mesma forma, outra cena bem elaborada traz Carmen e seu marido passeando no barco de um casal de amigos. O interesse materialista do grupo, exceto Carmen, se revela na conversa sobre as vantagens de se ter um barco. Carmen passal mal e vomita, mas não por causa do mar, como todos pensam, e sim como reação ao superficial discurso anticomunista da mulher à sua frente. Nesse ponto da história, Carmen já entende a motivação da causa revolucionária e não se alinha mais a essa ideologia burguesa. Tanto que, ao chegar em casa, corta em pedaços o vestido chique que não combina mais com ela.

Paranoia?

Por outro lado, o suspense provoca as maiores emoções em 1976. Através da trilha sonora, principalmente pelos ruídos e pela música sintetizada, sentimos o medo de Carmen. Parte disso pode ser paranoia, mas o toque de recolher, a batida policial e um cadáver encontrado na praia provam que o perigo é real nessa ditadura que priva os cidadãos de sua liberdade. A situação é de um divisionismo político radical, portanto, todos parecem suspeitos aos olhos da protagonista recém-introduzida na luta contra o poder. Não se trata de uma história de heróis, pois ao final Carmen desconfia que mais atrapalhou que ajudou.


1976 (cena do filme)
1976 (cena do filme)
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