O longa ficcional 21, Mão na Cabeça retrata a chacina de Vigário Geral de 1993 que resultou em 21 mortos. O filme teve lançamento nos cinemas em 2019 e acaba de chegar à plataforma de streaming NOW. O diretor do filme, Milton Alencar J., fala sobre a produção.
“Tudo começou quando fomos filmar, entre os anos de 2007 e 2009, o documentário Lembrar Pra Não Esquecer, que trata também da chacina. Na época, encontramos pessoas ligadas aos familiares da vítima. Essas pessoas têm associação de familiares e amigos da chacina de Vigário Geral. Nos aproximamos através de dra. Cristina Leonardo, advogada dos familiares, e depois com o hoje desembargador Muiño Piñeiro, na época promotor de justiça. A partir desses momentos passamos a construir uma história de uma referência documental. Fomos a campo pesquisar e nos envolvemos muito com familiares, a Iracilda, uma pessoa que eu adoro de paixão, o desembargador MP, coronel Brum e Dra. Cristina Leonardo, advogada que nos aproximou desse processo. No envolvimento com a comunidade vimos que precisávamos construir mais, e daí veio a ideia para o filme.”, explica Milton sobre as origens de 21, Mão na Cabeça.
Milton Alencar Júnior ainda relata como aconteceu o encontro com a menina que se tornaria personagem central do longa.
“Conheci aquela criança que viu o acontecimento por baixo do lençol. Essa moça, que hoje deve estar com uns 35 anos, deu base a história central de 21, Mão na Cabeça. Ela viveu aquilo ali, acrescentamos alguma ficção, mas a Clarissa, que é um nome fictício, viveu os acontecimentos, enxergando e protegida por um lençol jogado pela avó em cima dela. Mesmo assim, ela conseguiu ouvir e ver tudo por um buraquinho no lençol”, lembra.
Filmagens da ficção
O diretor de 70 anos explica como a ficção entrou no contexto da chacina.
“A ficção nos ajudou a transformar a vida dessa moça e encontrar um desses personagens policiais, que estavam no dia do crime. Da família dela, morreram 7 pessoas. A história se constrói a partir daí, um fato real e um sentimento doloroso que encontrei em familiares de vítimas: a impotência. A luta delas por justiça. Conheci pessoas que foram embora amarguradas, pois não conseguiram suportar a ideia de conviver com aquilo sem poder fazer nada. Essa impotência, do plano da realidade pra ficção, motivou uma reação inusitada dessa personagem.”
Alencar descreve como foram as filmagens.
“Quando filmamos o documentário não tivemos nenhuma dificuldade, até porque tive apoio dos familiares, pessoas que moram e viveram na comunidade. Mas, no filme, a ficção, que envolvia outro tipo de tratamento, outro tipo de esquema, foi mais difícil. Filmamos entre os anos de 2016/2017, e já estava ficando complicado fazer as captações no local, então tivemos que buscar alternativas, Assim, além de Vigário Geral, em algumas situações, fizemos em Cabo Frio, lugares que não identificassem geograficamente onde estávamos, mas de uma realidade social muito semelhante. Por exemplo, o templo da Igreja da Assembleia de Deus, o hospital, os bares. Fomos a Silva Jardim buscar a praça tão importante para a narrativa. Foi na praça Catole do Rocha, em Vigário Geral, que tudo começou. Assim, fomos moldando a uma realidade que pudéssemos filmar.”, ressalta.
30 anos mais tarde
Por fim, o cineasta expõe sua visão sobre a situação nas comunidades hoje, 30 anos depois da chacina.
“Infelizmente não há motivos para comemorar, nada mudou, ou melhor, mudou, mas para pior. O que resta é apenas lembrar e não esquecer de todo o sofrimento, dor, crueldade e banalização da violência. A Chacina de Vigário Geral inaugurou um ciclo de reação enorme: o Viva Rio, o Afro Reggae, todos são construções a partir daquela situação que chegou a um extremo. As reações foram imediatas e a gente conseguiu se defender. De alguma forma existe a possibilidade de ter sido feita um pouco de justiça, acusando algumas pessoas e prendendo outras. Porém com certeza nunca vai se fazer justiça de verdade, com relação aquele fato. Mas hoje as coisas estão muito piores.”, pondera Alencar.
Trailer:
Ficha técnica do filme:
Título: 21 Mão na Cabeça
Ano: 2019
Dirigido por: Milton Alencar Jr.
Duração: 81 min
Estreia: 2021
Gênero: Drama Policial
País: Brasil
Elenco: Prisma Da Mata, Roberto Bomtempo, Milhem Cortaz, Bárbara Reis, André Gonçalves, Claudiana Cotrim, José Prata.
(fonte entrevista: divulgação / foto: Bruna Pozzebon)