O filme mineiro “Sessão Bruta”, de direção coletiva assinada por As Talavistas e ela.ltda, foi o título vencedor de melhor longa-metragem da Mostra Aurora na 25a Mostra de Cinema de Tiradentes. A cerimônia de encerramento, transmitida pelo site do evento justamente no Dia da Visibilidade Trans (29 de janeiro), revelou a escolha de um trabalho que transita fortemente entre identidades, empoderamentos e reconhecimentos tanto estética quanto pessoalmente.
O prêmio foi concedido pelo Júri Oficial, formado por críticos, pesquisadores e profissionais do audiovisual. No texto de justificativa, apontou-se, entre os méritos do “Sessão Bruta”, a “recusa do embrutecimento que assola o presente, confrontado no filme com uma inventividade cosmopoética múltipla e transformadora, na qual a brutalidade de um mundo fundado na violência contra vidas trans e negras é perturbada por práticas de fuga, aquilombamento e refúgio” e também reconheceu sua “energia performativa que atravessa a assinatura coletiva, sem apagar a heterogeneidade de seu lugar de enunciação”.
O Troféu Carlos Reichenbach, dado pelo Júri Jovem ao melhor longa da Mostra Olhos Livres, foi para “Os Primeiros Soldados”, filme do Espírito Santo dirigido por Rodrigo de Oliveira. Na justificativa, o Júri Jovem, formado por estudantes, defendeu o trabalho do filme de “convocar as potencialidades da arte frente aos apagamentos da memória e apresentar uma maturidade fílmica na construção da linguagem”.
O Prêmio Helena Ignez 2022, oferecido pelo Júri Oficial a um destaque feminino em qualquer função nos filmes das Mostras Aurora e Foco, foi dado a Juliana Soares, produtora executiva e coprodutora do filme “Seguindo Todos os Protocolos” (PE). Em sua justificativa, o Júri reconhece a produtora por “viabilizar e apoiar a criação de filmes disruptivos em um momento de crise política e econômica do audiovisual brasileiro, expressando a vitalidade do cinema diante dos efeitos econômicos e sociais derivados da pandemia da Covid-19 e a efetividade de mecanismos como a Lei Aldir Blanc de forma criativa e inventiva”.
Na Mostra Foco, o Júri Oficial escolheu o curta-metragem “Uma Paciência Selvagem nos Trouxe até Aqui” (SP), de Érica Sarmet. Para os jurados, a “bravura política e estética com que produz um sentido de comunidade e mesmo de futuridade na imaginação da vida em conjunto, materializando o desejo sapatão no sexo e na construção de uma coletividade”, foram alguns dos motivos de premiação ao curta, assim como “o modo como constrói uma narrativa afetiva pautada pelo desejo e pelo encontro de gerações lésbicas, projetando um entrelaçamento de temporalidades nas fricções desse encontro”. O curta “Uma Paciência Selvagem nos Trouxe até Aqui” também ganhou o Prêmio Canal Brasil de Curtas, que oferece R$ 15 mil a um curta também da Mostra Foco em júri formado pelo próprio canal.
Novidade da Mostra de Tiradentes em 2022, a Conexão Brasil CineMundi contou com a categoria Work In Progress (WIP), a partir de projetos enviados previamente e analisados por um júri especial. O Troféu Horizonte da categoria foi para “A Transformação de Canuto” (PE), de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho. Por sua vez, o Prêmio WIP Meeting selecionou o projeto “O Rancho” (SP), com direção de Guilherme Martins e produção de Bruna Epiphanio. Oferecido pelo Festival de Málaga na Conexão Brasil CineMundi, a categoria WIP Exibição foi para “Nada” (DF), de Adriano e Fernando Jayme Guimarães. E o Prêmio Vitrine Filmes, que garante distribuição do longa vencedor, foi para “Mugunzá” (BA), de Ary Rosa e Glenda Nicácio.
CONFIRA OS PREMIADOS DA 25ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES
– Melhor curta-metragem pelo Júri Oficial, Mostra Foco: “Uma Paciência Selvagem me Trouxe até Aqui” (SP), direção de Érica Sarmet.
– Prêmio Canal Brasil de Curtas: “Uma Paciência Selvagem me Trouxe até Aqui” (SP), direção de Érica Sarmet.
– Prêmio Helena Ignez para destaque feminino: Juliana Soares, produtora executiva e coprodutora do filme “Seguindo Todos os Protocolos” (PE).
– Melhor longa-metragem pelo Júri Jovem, da Mostra Olhos Livres, Prêmio Carlos Reichenbach:
“Os Primeiros Soldados” (ES), de Rodrigo de Oliveira.
– Melhor longa-metragem da Mostra Aurora, pelo Júri Oficial: “Sessão Bruta” (MG), de As Talavistas e ela.LTDA.
JÚRI OFICIAL
Alessandra Soares Brandão, professora e coordenadora do Curso de Cinema da UFSC; Ivana Bentes, crítica, pesquisadora e professora na UFRJ; Marcelo Ribeiro, crítico, programador, curador e professor na Faculdade de Comunicação da UFBA; Ricardo Aleixo, artista, pesquisador intermídia, ensaísta e editor; e Yuri Firmeza, artista e professor da Universidade Federal do Ceará.
JÚRI JOVEM
Adler Correa, 24 anos, estudante do 5º período de Cinema e Audiovisual da UFPel; Maria Sucar, 21, do 2º período de Artes Visuais da UFRN; Nayla Guerra, 23, do 8º período de Audiovisual da USP; Nina Camurça, 20, do 3º período de Rádio, TV e Internet da UFJF; e Renan Eduardo, 21, do 8º período de Cinema e Audiovisual da PUC Minas.