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A Árvore dos Frutos Selvagens (filme)
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A Árvore dos Frutos Selvagens

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Oitavo longa-metragem do diretor turco Nuri Bilge Ceylan, A Árvore dos Frutos Selvagens concorreu à Palma de Ouro em Cannes, prêmio que seu filme Sono de Inverno conquistou em 2014, entre tantos outros que o cineasta já ganhou em Cannes e em outros festivais.

Ceylan possui uma filmografia diferenciada, com uma fotografia que extrai beleza onde olhos comuns nada veem. Enquanto isso, discute profundamente temas sérios sem se preocupar com a duração do filme. Em A Árvore dos Frutos Selvagens, os diálogos são muito longos, porque os personagens discutem com veemência assuntos como religião, existencialismo e a profissão de escritor.

Distanciando-se do cinema comercial, essas conversas não são fugazes e superficiais. Pelo contrário, são debates completos sustentados com as devidas argumentações, onde se citam Anton Chekhov, Fyodor Dostoevsky, Friedrich Nietzsche, Ibn Arabi, Shams-i Tabrizi, Peyami Safa, Yunus Emre e Maomé.

No filme, essas discussões surgem no cotidiano de Sinan, um jovem que retorna para sua pequena cidade natal na Turquia depois de se formar em pedagogia. Porém, teimoso em relação às suas convicções, não se contém e entra em conflito com as pessoas ao seu redor. Principalmente, com seu pai Murat, um professor do fundamental que se perdeu no vício das apostas e agora deve dinheiro para todo mundo. Logo, esse desvio de conduta de Murat é suficiente para que Sinan se sinta no direito de desprezar o pai.

Idealista

O rapaz se considera um idealista, inclusive no seu objetivo de se tornar um escritor. Assim que termina seu primeiro livro, intitulado “A Árvore dos Frutos Selvagens”, busca financiamento para publicá-lo. Então, Sinan encontra o escritor famoso da cidade, e começa uma conversa com ele para conseguir dicas de como começar sua carreira. Porém, as ideias preconcebidas de Sinan se chocam com o pragmatismo do autor experiente e os dois se despedem brigando.

A Árvore dos Frutos Selvagens passa três quartos de sua duração nesses dias posteriores ao retorno de Sinan à sua cidade natal, retratando sua busca pela publicação de seu livro, e os embates com outras pessoas. Na parte final, o filme avança no tempo e retrata o amadurecimento de Sinan, que valorizará a vida de camponeses que sua família leva há gerações. Uma frase sobre a beleza do ordinário, dita pelo escritor famoso da cidade, define o fundamento do filme.

Aliás, Nuri Bilge Ceylan dirige A Árvore dos Frutos Selvagens considerando esse princípio. Na sua fotografia, responsabilidade de Gökhan Tiryaki, lindas imagens retratam cenários comuns, talvez até considerados feios, nas cidades turcas usadas como locação – Yenice e Çanakkale. Por exemplo, a passarela que Sinan atravessa enquanto conversa ao celular com seu irmão policial.

Ao invés dos recursos comuns do cinema clássico, Ceylan não distingue sequências de sonho ou imaginação. Assim, o espectador se vê forçado a concluir se o que acontece na tela é real ou não. Ademais, ele nem usa transições na montagem para indicar a passagem do tempo. Novamente, cabe ao público captar que vários anos se passaram.

Natureza

Por outro lado, a natureza ganha um papel essencial na distinção das fases pelas quais Sinan atravessa. O vento e as folhas outonais marcam o encontro com a bela amiga da juventude, prenunciando as brigas que logo teria com um ex-namorado dela e com seu pai Murat. Os dias mais quentes acompanham acaloradas discussões, entre elas, aquelas com o escritor e a outra com os imans. A neve marca, enfim, o esfriamento dos ímpetos de Sinan e a aceitação de um destino mais realista.

Em A Árvore dos Frutos Selvagens, Nuri Bilge Ceylan resgata a beleza do ordinário, beleza essa nunca superficial.

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Ficha técnica:

A Árvore dos Frutos Selvagens (Ahlat Agaci, 2018) Turquia/França/ Alemanha/Bulgária. 188 min. Dir: Nuri Bilge Ceylan. Rot: Akin Aksu, Ebru Ceylan, Nuri Bilge Ceylan. Elenco: Aydin Doğu Demirkol, Murat Cemcir, Bennu Yildirimlar, Hazar Ergüçlü, Serkan Keskin, Tamer Levent. Dist: Fênix Filmes.

Trailer:

Leia também: Novo filme do diretor turco Nuri Bilge Ceylan

Onde assistir:
A Árvore dos Frutos Selvagens
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