A Balada do Soldado visita o amor em tempos de guerra através do cinema clássico realizado na União Soviética.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o soldado de 19 anos Alyosha destrói sozinho dois tanques inimigos. Ao invés de ser condecorado, ele pede alguns dias de licença para visitar a mãe no pequeno vilarejo onde moram. Então, durante a árdua viagem de trem, ele conhece uma moça chamada Shura. Se não houvesse guerra, o encontro logo poderia evoluir para um romance. Porém, a realidade dura açoita a pureza da juventude.
Amores na guerra
Nesse sentido, a trama apresenta Shura como uma jovem desconfiada. Ela teme que o soldado possa atacá-la dentro do vagão de feno, onde se escondem sozinhos. Gradativamente, um sentimento de afeição se desenvolve entre eles. Mas, surgem acontecimentos que abalam a idealização do relacionamento entre as pessoas. Por exemplo, o soldado que pede propina para permitir que eles viagem como clandestinos. E, também, quando veem que a esposa do soldado no front já arrumou um novo marido. Por isso, somente ao se despedirem, Shura abre a possibilidade de um romance.
Enquanto isso, Alyosha mantém forte o amor pela mãe. De fato, é isso que o motiva a enfrentar todas as dificuldades para conseguir vê-la, nem que seja somente por alguns minutos. Então, a narração em voz masculina, presente também no início do filme, indica que o rapaz poderia ter outro futuro, mas será sempre lembrado como um soldado, um soldado russo. Talvez essa frase tenha intenção de incentivar e homenagear aqueles que lutaram pelo país, mas, hoje, ela parece conter um certo cinismo. Afinal, a guerra destruiu uma possível vida feliz de Alyosha ao lado da mãe e de Shura.
Cinema clássico
Em seu segundo filme, o diretor Grigoriy Chukhray realiza A Balada de um Soldado no melhor estilo do cinema clássico. Destaca-se uma tomada visualmente espantosa, em que a câmera acompanha o tanque que persegue Alyosha, até colocar a cena de cabeça para baixo. Com exceção dessa cena com acrobacia estilística, o restante do longa se preocupa em encontrar os melhores enquadramentos para contar sua estória. E tudo está belamente capturado, ou seja, com o melhor das direções de arte e de fotografia. Por exemplo, o plano com Shura sozinha na estação de trem, após se despedir de Alyosha, transmite todo o seu sentimento que mescla paixão, esperança e vazio. Em seguida, a contraparte do rapaz, através de flashbacks dos momentos que compartilhou com a garota.
Com isso, A Balada de um Soldado é um filme que provoca reflexões sobre os efeitos da guerra sobre a pureza da juventude, bem como sobre o vazio das mães que veem suas crianças partirem. A trama ganha uma embalagem fácil de alcançar o público, não só da então União Soviética, como de todo o mundo. Afina, seu cinema clássico é o mesmo praticado por Hollywood.
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Ficha técnica:
A Balada do Soldado (Ballada o soldate) 1959. União Soviética. 88 min. Direção: Grigoriy Chukhray. Roteiro: Grigoriy Chukhray, Valentin Ezhov. Elenco: Vladimir Ivashov, Zhanna Prokhorenko, Antonina Maksimova, Aleksandr Kuznetsov, Evgeniy Teterin.