A Bruxa dos Mortos: Baghead se baseia no curta-metragem de 2017 do mesmo diretor Alberto Corredor. Em sua estreia em longa, Corredor demonstra um carinho especial por sua obra. Principalmente na primeira parte, quando escolhe enquadramentos aprimorados que aproveitam a arquitetura do velho bar inglês onde se desenrola a trama. Seu bom gosto também aparece ao evitar mostrar um close do cadáver do homem que morreu queimado, seguido de um plano que mostra a protagonista descendo uma escadaria vitoriana que simboliza o início do seu rumo à desgraça. Pelo mesmo motivo, as composições de quadro privilegiam a visão de cima para baixo.
Além dessa qualidade formal, Alberto Corredor também mostra que sabe empregar devidamente os clichês do gênero terror. Assim, reforça sempre o tom sombrio, e não dispensa oportunidades de sustos. Por exemplo, sempre que o enigmático administrador fala alguma coisa, a sua voz entra de surpresa e em volume alto. Não faltam as passagens de vultos, tanto no fundo como na frente do quadro, acompanhadas de efeito sonoro. O ponto alto é um momento de muita tensão, que conta com luzes piscando intermitentemente, sempre deixando o espectador em agonia por não saber o que aparecerá na tela quando a luz acende.
Porém, o diretor usa um tom ameno demais quando a protagonista adentra o mundo sobrenatural, que fica atrás da parede, e onde mora a tal bruxa Baghead. A iluminação clara demais e a própria cenografia estão aquém do que se espera daquele lugar proibido. Por outro lado, todos os seres do além são assustadores – fruto do trabalho da maquiagem e da habilidade da direção em mantê-los pouco tempo na tela.
A história
O roteiro não é um dos pontos fortes de A Bruxa dos Mortos: Baghead. A jovem Iris (Freya Allan) recebe um antigo bar como herança de seu pai que ela não via há anos. Contrariando o conselho do administrador desse bem, ela decide ficar com o imóvel, pois não tem mais onde morar.
Soa bem forçado que ela desça até o porão logo na primeira noite – faltou aí um barulhão ou uma voz que a chamasse para justificar essa atitude. Poderia pular esse momento e ir direto para a cena da chegada de Neil (Jeremy Irvine), um viúvo que deseja falar com sua esposa morta. Neil está disposto a pagar um valor alto para evocar a bruxa. Dessa forma, Iris fica sabendo da existência dela, e não resiste à oportunidade de ganhar um bom dinheiro. Mas ela não respeita algumas regras que o seu pai deixou em um vídeo, e a bruxa ficará cada vez mais perigosa.
Perto do final, há uma desnecessária montagem que revisita trechos anteriores do filme. Diferente de quando esse recurso faz diferença, aqui a junção desses momentos não acrescenta nada à narrativa. A intenção é mostrar que a Baghead estava por trás de todos os eventos, mas isso não é bem uma novidade. Os personagens humanos simplesmente foram tolos o bastante para cair nessas tentações. O que leva, até, a uma inesperada conclusão em relação à protagonista.
Enfim, embora tenha suas falhas, A Bruxa dos Mortos: Baghead se sobressai entre os variados lançamentos de terror de pequeno e médio orçamento que chegam aos cinemas. Gera uma expectativa para os próximos filmes do estreante diretor Alberto Corredor, que prova aqui que sabe como posicionar a câmera, talento essencial para todo cineasta.
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Ficha técnica:
A Bruxa dos Mortos: Baghead | Baghead | 2023 | Reino Unido | 94 min | Direção: Alberto Corredor | Roteiro: Christina Pamies, Bryce McGuire | Elenco: Freya Allan, Peter Mullan, Ruby Barker, Saffron Burrows, Ned Dennehy, Jeremy Irvine, Julika Jenkins, Svenja Jung, Anne Müller.
Distribuição: Imagem Filmes.
O filme estreia nos cinemas no dia 8 de fevereiro de 2024.
Assista ao trailer aqui.