A City Called Macau é uma rara oportunidade de se conhecer, através de um filme, a vida nessa região depois que Portugal a devolveu para a China em 1999.
Cassinos de Macau
E a estória do filme explora justamente o que torna Macau um dos mais procurados destinos turísticos do mundo: os seus cassinos. Assim, acompanhamos doze anos da vida de Mei Xiaoou, a partir de 2002. E ela mesmo narra como entrou para o mundo das apostas para trabalhar como uma brooker. Ela é responsável por fisgar clientes lucrativos para um dos maiores cassinos locais. Por isso, seu trabalho lhe dá uma gorda comissão. Dessa forma, ela pode viver confortavelmente com seu filho, depois que o marido a abandonou justamente por causa do vício na jogatina.
Mas, Mei Xiaoou passa por altos e baixos. Ela perde muito dinheiro por não conseguir separar os sentimentos pessoais dos profissionais. Afinal, um dos ingredientes para se dar bem nesse negócio é a frieza, principalmente na hora de cobrar as dívidas. Então, dois clientes provocam sua quase ruína. Primeiro, o milionário empresário Duan Kaiwen. Depois, o escultor Shi Qilan. Viciados no jogo, eles perdem tudo que possuem, até a família. Por fim, Mei Xiaoou precisa sacrificar sua própria casa para continuar trabalhando no ramo.
Luxo
O filme é uma experiência agradável para o espectador. A experiente diretora Shaohong Li mostra a jornada de Mei Xiaoou nos ambientes luxuosos dos cassinos, em sequências com muita música e movimentos de câmera. Ela demonstra talento ao usar o espelho para ilustrar a protagonista dividida entre os seus dois clientes, e o reflexo no vidro da penitenciária que revela a insistente presença de um deles na sua vida, mesmo depois de uma condenação à prisão.
Porém, A City Called Macau (título para distribuição no mercado internacional) parece acanhado demais para retratar um ambiente tão no limite do crime. O filme foge da violência, apesar da presença de muitos capangas com cara de mau que acompanham os chefões dos cassinos. E não mostra se Mei Xiaoou se envolve romanticamente com os dois apostadores que ela defende, o que explicaria suas atitudes. Apenas na parte final ela namora um deles, mas sem nem apimentar o filme com cenas românticas – aliás, eles mal se beijam.
Por isso, apesar do belo visual e do universo interessante abordado, A City Called Macau não tem emoção, e sua frieza acaba tornando sua protagonista superficial, incapaz de criar vínculo sentimental com o público.
Ficha técnica:
A City Called Macau (Ma Ge shi zuo cheng, 2019) China/Macao/Hong Kong. 120 min. Dir: Shaohong Li. Rot: Man Keung Chan, Wei Lu. Elenco: Baihe Bai, Jue Huang, Gang Wu, Carina Lau, Tian Liang, Samuel Pang, Lu Wei, Le Geng, Xiaotong Yu, Xiamonig Su.