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A Época da Inocência (filme)
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A Época da Inocência

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

A Época da Inocência traduz a admiração do cinéfilo Martin Scorsese pelos filmes de época.

Trata-se de um filme de época com toda a sua pompa. A história se passa nos anos 1870, em Nova York, no ambiente da alta classe da sociedade. Curiosamente, dez anos depois, Scorsese retrataria a classe baixa dessa mesma localidade e época, em Gangues de Nova York (2002). Aliás, o cineasta trabalha um gênero incomum em sua filmografia, mas não se afasta de seu berço, a cidade de Nova York.

O roteiro adapta o livro de Edith Wharton publicado em 1920, e conta o triste amor não consumado de Newland Archer pela condessa Ellen Olenska.

Archer está noivo da prima de Olenska, a jovem May Welland, quando Olenska retorna da Europa, após um casamento problemático. Por causa disso, a reputação da condessa está em baixa, e Archer se esforça para reinserí-la na alta sociedade. Apesar de se apaixonar por Olenska, Archer não quer ferir a quase angelical (e ingênua) May e nem arranhar a reputação dele. A vida de aparências ganha preferência sobre o amor.

Ritmo do século 19

O ritmo lento de A Época da Inocência surpreendeu quem acompanhava a carreira do diretor. Afinal, ele realizou esse drama romântico entre o thriller Cabo do Medo (1991) e o filme de gângster Cassino (1995), dois exemplos claros de seu cinema frenético. Mas, essa desaceleração faz todo o sentido, pois acompanha o ritmo de um período em que o tempo andava com menos pressa. Aliás, característica que o diretor percebeu em Barry Lyndon (1975), de Stanley Kubrick.

“O estilo de Kubrick era estranhamente perturbador. Sua audácia foi insistir na lentidão a fim de recriar o ritmo de vida e o comportamento ritualizado da época.”, comentou Scorsese no livro “Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano”, que ele escreveu com Michael Henry Wilson.

Estilo e inovação

Contudo, o estilo de Scorsese marca presença nesse filme de época. O famoso plano sequência de Os Bons Companheiros (1990) ganha aqui um equivalente na cena da festa na mansão da família Beaufort. A câmera passeia por inúmeros convidados espalhados pelas várias salas de estar até chegar ao gigantesco salão onde acontece um baile. Ademais, essa cena lembra muito o baile do filme O Leopardo (1963), de Luchino Visconti, dando vasão ao lado cinéfilo de Scorsese. Em entrevista na época do lançamento de A Época da Inocência, o diretor ainda mencionou seu desejo de ganhar um lugar ao lado de outros filmes de época. E, mencionou, além de O Leopardo, Sedução da Carne (1954), também de Visconti, Tarde Demais, de William Wyler, e O Absolutismo: A Ascensão de Luís XIV (1967), de Roberto Rossellini (in: “Martin Scorsese”, Thomas Sotinel, Cahiers du Cinéma).

Por outro lado, Scorsese ainda inova. Destacadamente, nas transições em fade out. Ao invés do tradicional dissolve para o preto, aqui ele vai para o branco, vermelho, amarelo, enfim, conforme o tom da cena. Esse recurso, ele obtém ao lado da sua parceira preferida na edição, Thelma Schoonmaker.

Merecem destaque, também, os estilizados créditos iniciais, com as flores se abrindo. A criação é do consagrado Saul Bass, junto com sua esposa Elaine Bass, que também assinam os créditos de Os Bons Companheiros, Cabo do Medo, e Cassino.

Além disso, o filme preserva o caráter literário da sua origem. Por isso, a atriz Joanne Woodward faz a voz da narração como se fosse a autora do livro. Essencialmente, essas intervenções enriquecem a trama com observações sobre os costumes da época dentro desse extrato elitista da sociedade.

Elenco

No elenco, três forças interpretativas legitimam os protagonistas.

Daniel Day-Lewis está à vontade como Archer, mais uma vez atuando em um drama de época, após o sucesso de Uma Janela Para o Amor (1985), de James Ivory. Da mesma forma, Michelle Pfeiffer (Condessa Olenska) brilhara em Ligações Perigosas (1988), que se passa no século 18, e cujo papel lhe rendeu uma indicação ao Oscar.

Em relação aos prêmios da Academia, A Época da Inocência permitiu a Winona Ryder disputar o Oscar como atriz coadjuvante. Sua atuação como a bela e angelical May Welland é irretocável e deixa evidente o bom caráter de sua personagem.

Mas, o único Oscar que o filme ganhou foi pelos figurinos, a cargo de Gabriella Pescucci, fruto da preocupação de Scorsese em retratar a época com total precisão. Por isso, a obra também disputou o prêmio da Academia pela direção de arte, bem como pelo roteiro e trilha musical, somando cinco indicações.

A Época da Inocência não é o típico filme de Scorsese, e sim um grande filme de época.


A Época da Inocência (filme)
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