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A Fratura (filme)
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A Fratura | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Em A Fratura, após uma briga conjugal entre Raf (Valeria Bruni Tedeschi) e Julie (Marina Foïs), a primeira cai no meio da rua, quebra o braço e vai parar num hospital público parisiense numa noite de conflito entre a polícia e os “gilet jaunes” (coletes amarelos), durante as manifestações ocorridas contra a política econômica neoliberal de Emmanuel Macron e o aumento absurdo do diesel em 2018. Na fila da triagem, encontra o manifestante Yann (Pio Marmaï), um caminhoneiro expansivo e estourado como ela, o que a faz pensar em seus modos impulsivos e os motivos que levaram Julie a querer terminar a relação.

A diretora Catherine Corsini, do belo Um Amor Impossível (2018), trabalha aqui perto de alguns limites.

O primeiro é o que resvala no aspecto político das manifestações contra Macron, da presença de membros da extrema direita surfando nessa onda e no modo como os personagens do filme respondem a ela.

O segundo é mais complicado ainda, pois estamos num hospital público, com todos os cortes impostos pelo neoliberalismo e muitos feridos à espera de atendimento com falta de pessoal qualificado, uma situação em que todos trabalham sob tensão e cansaço, antecipando as linhas de frente contra a Covid que viriam logo depois. Desses funcionários se destaca a enfermeira Kim (Aissatou Diallo Sagna).

Finalmente, o terceiro limite é o dos gritos, destemperos, exageros infantis e mimados da protagonista e do manifestante caminhoneiro que faz questão de se incluir no proletariado. Esses personagens chegam perto do limite do tolerável, e um exagero a mais poderiam prejudicar todo o filme.

Câmera nervosa

Raf já se mostra, desde o início, como uma mulher propensa a irritar. Ela manda mensagens para o celular da companheira o tempo todo, chamando de vadia para baixo. Só depois percebemos que Julie estava tentando dormir a seu lado. A vibração do celular é usada como uma arma, tão ou mais irritante, nesse momento, quanto a insistência para que a relação continue.

O papel de Valéria Bruni Tedeschi, por isso, é um tanto mais difícil que o de Marina Foïs, pois permite o brilho ao mesmo tempo em que flerta com o exagero, como dito acima, e não seria equivocado pensar que Tedeschi atinge os dois, ainda que, quando brilha o filme cresce, e por sorte ela brilha mais no final. Foïs, por sua vez, atua em um tom mais sóbrio, consciente da situação e procurando chegar a pequenos consensos dentro de uma grande ruptura (da normalidade também).

Faz sentido que a câmera fique o tempo todo nervosa, sobretudo nas cenas de hospital que compõe a maior parte do filme. Uma mise en scène mais pensada poderia bater de frente com a atmosfera pretendida por Corsini. Mas é fato que esse novo academicismo da câmera “que respira” marca 80% do cinema francês recente, o que dá uma sensação de déjà vu estilístico, para além do clima hospitalar que tem feito sucessos em séries, até no Brasil.

O nome do filme é curioso, porque A Fratura se revela prosaico se pensarmos no braço quebrado de Raf, mas se revela mais complexo quando vemos que pode retratar o que aconteceu na relação com Julie, e alegórico quando examinamos a situação política francesa na ocasião e a fratura exposta deixada na saúde pública pelo governo de Macron.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

A Fratura | La Fracture | 2021 | 98 min | França | Direção: Catherine Corsini | Roteiro: Catherine Corsini, Agnès Feuvre, Laurette Polmanss | Elenco: Valeria Bruni Tedeschi, Marina Foïs, Pio Marmaï, Aïssatou Diallo Sagna, Jean-Louis Coulloc’h, Camille Sansterre, Marin Laurens.

Distribuição: Imovision.

Trailer:
Trailer de “A Fratura”
Onde assistir "A Fratura":
A Fratura (filme)
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