O título nacional de A Garota Radiante nos induz a tentar adivinhar quem é essa tal personagem luminosa entre os vários jovens atores que passam um trecho de uma peça durante a cena inicial do filme. Mas é no seu título original, “Une Jenue Fille Qui Va Bien”, que encontramos a essência desse enredo, sob o viés cínico do momento que revela a protagonista, Irène (Rebecca Marder), quando cai desmaiada no chão. Ou seja, não está tudo bem para a “jovem moça que vai bem”. E não se trata apenas desse desfalecimento.
O enredo contrasta a realidade ameaçadora do nazismo com o cotidiano alegre de Irène. Nesse último ponto, até exagera na caracterização. Ao chegar em casa à noite, a hiperativa garota esbanja sorrisos enquanto enche o saco do pai, da avó e do irmão. Irrita até o espectador, que ainda tem que suportar a câmera constantemente trêmula, inclusive ao acompanhar os personagens caminhando dentro de casa.
Não há cartelas que indicam a época em que se passa a história, mas quando o pai conta que a família precisa agora ter um “judeu” carimbado em seus documentos de idade, já notamos que estamos perto da Segunda Guerra Mundial. Mas o filme indica que esse problema não é de Irène. Afinal, ela está entusiasmada porque acaba de se apaixonar pelo jovem médico Jacques (Cyril Metzger). Curiosamente, invertendo as expectativas, a câmera entra nos eixos e deixa de tremer com esse caso de amor. Enquanto isso, gradativamente cresce a discriminação contra os judeus como Irène e sua família. Mas a protagonista continua vendo apenas o seu mundo (a audição e o namoro), até o final arrebatador que simboliza o nazismo ceifando a vida dos judeus.
Jovens alienados
Entre canções intrusivas, com letras em inglês e que não combinam com o tom romântico das cenas do namoro, câmera trêmula que deixa de tremer justamente quando o drama aumenta, e a personagem alienada do contexto em que vive, sobram em A Garota Radiante as boas intenções da atriz Sandrine Kiberlain em sua estreia na direção de longa-metragem. Pelo menos, se consideramos que é intencional seu alerta para o perigo de os jovens se alienarem da política.
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Ficha técnica:
A Garota Radiante | Une Jeune Fille Qui Va Bien | 2021 | 98 min | França | Direção e roteiro: Sandrine Kiberlain | Elenco: Rebecca Marder, André Marcon, Anthony Bajon, Françoise Widhoff, India Hair, Florence Viala, Ben Attal.
Distribuição: Pandora Filmes.
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