Constatar que esse fraco filme espanhol esteja no “Top 10 em filmes hoje” da Netflix, numa honrosa quarta posição, revela o comportamento passivo dos assinantes da plataforma. O hábito equivale ao que víamos no tempo da televisão aberta, quando o telespectador assistia o que a programação do seu canal preferido exibisse. Não havia um movimento de escolha, não importava se o conteúdo interessava ou não. No streaming, o assinante vê a novidade que entra no catálogo, e o título sobe para o Top 10 logo na estreia. Mas, poucos deles conseguem se manter na lista. Afinal, não são bons filmes – é o que deve acontecer com A Gestora (La Jefa).
A trama
A Gestora se aproxima mais de uma novela do que do suspense psicológico sombrio que a Netflix coloca na apresentação do título na plataforma. A trama já indica esse viés noveleiro, que se confirma nas opções do diretor Fran Torres, ao evitar cenas muito violentas e inserir músicas nada sinistras em momentos que poderiam ser assustadores. O enredo acompanha Sofía (Cumelen Sanz), uma jovem argentina que se muda com seu namorado para Madri a fim de ascender profissionalmente. Ambiciosa, Sofía agarra com unhas e dentes a oportunidade de trabalhar para Beatriz (Aitana Sánchez-Gijón), uma empreendedora da moda de muito sucesso. Enquanto seu namorado planeja se mudar para a Colômbia, pois ali na Espanha ele não está evoluindo, ela acumula elogios junto à sua chefa. Porém, justamente quando consegue a efetivação, descobre que está grávida.
Sofía cogita o aborto, mas por ser uma católica devotada, desiste da ideia. Então, a solteirona Beatriz aproveita para, enfim, conquistar seu sonho de ser mãe. E propõe adotar a filha de Sofía, mediante gorda recompensação. Porém, para isso, precisa se isolar na casa de campo da patroa. Assim, ninguém descobrirá que a filha é dela. Aos poucos, a jovem descobre que vive em uma espécie de cárcere privado.
Quem padece é o espectador
Mas o filme falha em não mostrar com a devida contundência o quanto Sofía padece. Na ensolarada mansão com uma empregada à disposição, a vida parece bem fácil para ela. É claro que nada compra a liberdade, porém a mise-en-scène não consegue enfatizar essa sensação, que seria essencial para o enredo funcionar. Para agravar a apreciação, nem conseguimos sentir empatia por essa personagem, pois, apesar de vítima da situação, é uma carreirista que só pensa nela. Ela deixa o namorado em segundo plano, mente até em relação a sua formação, e, por fim, rouba a patroa.
A Gestora demora para desenrolar a sua parte do meio, o desenvolvimento da trama, que se arrasta sem sair do lugar. Deveria, gradualmente, tornar mais dura a gestação isolada da protagonista, o que justificaria seu ato no final, mas o filme não se preocupa com isso. A conclusão, então, parece interminável. Mesmo depois de já estar tudo definido, a história se estende e acaba por se encerrar de uma forma desapontadora.
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Ficha técnica:
A Gestora | La Jefa | 2022 | 1h49 | Espanha | Direção: Fran Torres | Roteiro: Laura Sarmiento Pallarés | Elenco: Aitana Sánchez-Gijón, Cumelen Sanz, Alex Pastrana, Younes Bachir, Pedro Casablanc, María Fernández Prat.
Distribuição: Netflix.