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A Ilha de Bergman (filme)
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A Ilha de Bergman

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

Escrito e dirigido por Mia Hansen- Løve, A Ilha de Bergman (Bergman Island, 2021) aposta em uma estrutura narrativa ousada. Sua primeira metade apresenta elementos que agradam cinéfilos, em especial os apreciadores de Ingmar Bergman. E o restante do filme engaja aqueles artistas, roteiristas em especial, que caçam inspiração para finalizar suas obras.

A ilha do título, na verdade, se chama Ilha de Fårö, mas se tornou famosa por causa de seu morador ilustre, o cineasta sueco Ingmar Bergman. Ela é o destino do casal Chris (Vicky Krieps) e Tony (Tim Roth). Este último já atingiu o patamar de diretor de cinema reconhecido, enquanto Chris é uma roteirista em início de carreira enfrentando um bloqueio para escrever.

Ao retratar o retiro dos dois na ilha sueca, o filme se aproxima de um guia turístico, mostrando como a presença de Bergman é ali explorada. Tony conhece várias locações de filmes do diretor ao realizar o tour Bergman Safari, enquanto Chris visita outros lugares relacionados a Bergman com um sueco que conhece a ilha. Ademais, o casal conhece a presidente da Fundação Bergman e se instala em imóveis que o cineasta utilizou, como sua sala de projeção e o moinho que usava às vezes como escritório. Tudo muito curioso para os fãs de Ingmar Bergman.

Um roteiro em desenvolvimento

Na segunda metade de A Ilha de Bergman, Chris conta a Tony o que já escreveu em seu novo roteiro. Então, o filme leva para as telas a história de Chris, um drama romântico no qual Amy (Mia Wasikowska) viaja para um casamento na ilha e lá encontra o ex-namorado Joseph (Anders Danielsen Lie). Essa trama mostra que Amy ainda está apaixonada por Joseph – eles transam, mas Joseph não está disposto a deixar a família por causa da ex-namorada. A transição entre esses dois momentos narrativos é um dos belos trechos do filme, dentre outros de apuro estilístico, como a câmera que acompanha de fora o caminhar de Chris dentro da casa de Bergman.

No entanto, o que instiga nessa segunda metade é a demonstração do processo de criação de um roteiro. Não didaticamente, mas em relação à influência da vida pessoal do autor na obra. Nesse sentido, vemos Hampus, o estudante sueco que mostrou a ilha para Chris, ser um coadjuvante no filme que ela escreve. Além disso, sua personagem Amy possui pontos em comum com sua vida real. Por exemplo, as duas possuem uma filha pequena. E, em cenas de realismo mágico, Chris conversa numa mesa de restaurante com seus personagens Amy e Joseph.

Chris e Tony

Da mesma forma, Chris e Tony também possuem elementos da relação entre Mia Hansen-Løve e o cineasta (26 anos mais velho) Olivier Assayas, com quem ela tem uma filha. Por outro lado, lembram Woody Allen e Mia Farrow, ou seja, o diretor famoso e intelectual e a artista (aqui roteirista e não atriz) melosa e insegura. No entanto, seja qual foi a inspiração para construí-los, são dois protagonistas individualistas que provocam mais aversão do que empatia no público. Da mesma forma, assim são os personagens criados por Chris. Em suma, Tony e Joseph são dois homens que não tratam suas companheiras (ou ex-companheira) com o devido afeto que elas merecem. Já Chris e Amy parecem mulheres que reclamam o papel de vítimas sofredoras.

Em A Ilha de Bergman, o final aberto se mostra acertado, apesar de desagradar os espectadores clássicos. Essa ausência de uma conclusão dialoga com o problema da protagonista Chris, que não sabia como terminar seu filme. E a presença da filha que se encontra com ela na última cena abre duas possibilidades. Uma delas, que Chris conseguiu terminar o seu roteiro e, agora, pode curtir a filha. A outra possibilidade é que Chris desistiu da obra para se dedicar à família, como sugerira Tony em certo momento do filme. Duas conclusões antagônicas entregues para cada espectador escolher o final preferido. Assim, desta vez Hansen-Løve se apoia na afirmação de uma artista, enquanto seu filme anterior, Maya (2018), versava sobre a redescoberta de si mesmo.


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