O terror psicológico A Inocente Face do Terror, embora dirigida pelo veterano Robert Mulligan, possui as características do cinema dos anos 1970.
No tema, segue a Nova Hollywood no tocante à inocência perdida, ao clima de desconfiança que dominava o espírito da época, bem como à violência sem sentido das guerras – em especial a do Vietnã.
Na forma, o longa também carrega as influências de outros filmes setentistas. O uso incisivo do zoom e a câmera que se movimenta bastante em trilhos ou na mão tomando cuidado para não balançar demais (como se tornou comum hoje). Comparando este filme com o outro terror psicológico Inverno de Sangue em Veneza (Don’t Look Now, 1973), de Nicolas Roeg, esses maneirismos se sobressaltam em ambos. O resultado impacta na criação de tensão, na maior parte dos casos por direcionar os olhos do espectador ao elemento dramático, justamente onde termina o zoom ou o movimento da câmera.
O gêmeo perverso
No filme de Robert Mulligan, que se passa no interior dos Estados Unidos na década de 1930, esse elemento se materializa em Niles (Chris Udvarnoky) e seu irmão gêmeo Holland (Martin Udvarnoky). A partir do ponto de vista de Niles, o espectador percebe que a história se passa na fazenda do tio deles, pois o pai morreu e a mãe (Diana Muldaur) está doente. Os maneirismos indicam que algo estranho acontece nesse ambiente. Isso leva o público a observar com suspeita. Provavelmente, nota que, exceto por Niles, as pessoas nunca falam com Holland, o gêmeo perverso.
Coisas ruins começam a acontecer na fazenda. No início, são pequenas travessuras que Holland inventa, mas depois as brincadeiras se tornam mortais. Alguns detalhes macabros, como um dedo decepado, injetam doses de terror na trama. Quem assiste ao filme enumera várias suposições sobre o que acontece ali, mas o próprio enredo se prontifica a desmenti-las, primeiro através de fotografias antigas, depois ao desvendar o mistério quando a governanta Ada (Uta Hagen), muito ligada a Nigel, descobre o erro que ela própria cometeu.
Imagens marcantes auxiliam a narrativa, que demonstra como pode funcionar a mente de uma criança ao se tentar evitar o luto com evasivas. Inocente, mesmo quando a verdade vem à tona, Nigel ainda acredita que um anjo o visita na última cena do filme – uma bela sobreposição das figuras do anjo e de Ada sela o destino do garoto. Uma derradeira sequência, filmada em plano único, indica que Holland ainda continua a atormentar a família, agora na mente da enferma mãe, cujo olhar pela janela se direciona à aparição do menino.
A psicologia infantil
A Inocente Face do Terror não busca o susto fácil, pois o temor psicológico amedronta por si, já que não necessita de uma intervenção sobrenatural para concretizar o seu mal. O filme, nesse sentido, é muito sólido em relação ao quão influenciável uma criança pode ser.
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Ficha técnica:
A Inocente Face do Terror | The Other | 1972 | 108 min. | EUA | Direção: Robert Mulligan | Tom Tryon | Elenco: Uta Hagen, Diana Muldaur, Chris Udvarnoky, Martin Udvarnoky, Norma Connolly, Victor French, Loretta Leversee, Portia Nelson, Jenny Sullivan, John Ritter.