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A Luta de uma Vida
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A Luta de uma Vida

Avaliação:
4/10

4/10

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Crítica | Ficha técnica

A Luta de uma Vida (The Survivor) tem um enredo simples. Sobrevivente de Auschwitz, Harry Haft (Ben Foster) torna-se boxeador fracassado no pós-guerra. Fracassado porque o esporte lhe traz más lembranças. Foi graças a seus golpes de direita que ele se tornou uma espécie de protegido de um oficial nazista, que apostava nele em lutas com outros judeus nos campos de concentração. A cada golpe que Harry leva em 1949, quando o vemos perseguindo a chance de se tornar estrela, vemos também imagens em preto e branco de seu período como prisioneiro dos nazistas.  

Há ainda um outro tempo, no litoral da Georgia em 1963, quando Harry já está casado e tem três filhos, e uma subtrama um tanto tola – a procura por uma antiga namorada, prisioneira como ele. Teria sobrevivido à guerra? Essa procura, contudo, faz com que ele se aproxime de sua futura esposa, Miriam (Vicky Krieps).

Harry é bom de soco, mas muito ruim de concentração. Não tem o preparo mental para ser um grande boxeador. Tornou-se conhecido mais por ter sobrevivido a Auschwitz do que pela habilidade nos ringues. O anticlímax total dessa inaptidão é a surra que leva de Rocky Marciano, após um primeiro assalto equilibrado. Lembra uma surra que levou no campo de concentração, antes de virar o jogo e, todo ensanguentado, eliminar o oponente com golpes raivosos. Obviamente o filme irá alternar os dois tempos da maneira mais óbvia possível.

A trajetória de Levinson

Barry Levinson era um diretor interessante nos anos 1980. Dependente demais de bons elencos e roteiros, tinha uma certa esperteza para consegui-los, realizando assim filmes no mínimo dignos como Quando os Jovens se Tornam Adultos (Diner, 1982), O Enigma da Pirâmide (Young Sherlock Holmes, 1985), Bom Dia, Vietnã (Good Morning Vietnam, 1987), Os Rivais (Tin Men, 1987) e Rain Man (1988). Após o Oscar com o último desses filmes, realizou os modorrentos, mas amplamente elogiados Avalon (1990) e Bugsy (1991), tentativas de entrar em outro patamar, o de diretor de filmes de prestígio.

De lá para cá, contudo, tornou-se mesmo um diretor irregular, capaz de equívocos dantescos como Sleepers (1996) e Esfera (Sphere, 1998) e de filmes no mínimo curiosos como Mera Coincidência (Wag the Dog, 1997) e Candidato Aloprado (Man of the Year, 2006).

Os filmes desses cineastas de estúdio até os anos 1990 são minimamente bem filmados, o que faz com que muitos, revistos agora, pareçam melhor do que na época, acostumados que estamos ao academicismo terrível das imagens sujas. Talvez até mesmo os que eu chamei de equívocos dantescos cresçam em comparação com o que é feito hoje.

O equívoco

A Luta de uma Vida leva a essa impressão e figura entre os maiores equívocos de Levinson. Lembra o pensamento de Jacques Rivette de duas maneiras. Na ideia de que todo filme tem pelo menos uma boa cena ou boa sequência (que aqui aparece logo no início e depois é só vergonha), e no conceito da abjeção, que engloba praticamente todas as imagens em preto e branco, a descrição formal estilosa de acontecimentos abjetos.

Impressiona, negativamente, o quanto é mal filmado, com uma câmera bem ao gosto atual de querer filmar tudo chacoalhando, como se estivesse em uma rave. Tem ainda cortes desajeitados, angulações muito mal pensadas e um elenco impressionantemente mal, desde o protagonista Ben Foster até a participação nada inspirada de Danny DeVito (incrível desperdício desse grande ator) e de Peter Sarsgaard como o jornalista arrivista. Só Vicky Krieps engana um pouco num elenco que parece constrangido – pelo déjà vu da narrativa ou pela má operação da câmera.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


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