O filme policial A Mãe do Ano tem o mérito de apresentar combates bem filmados. Mas também uma trama pouco criativa e uma protagonista sem presença de tela.
São, basicamente, três grandes cenas de luta. Todas apostando em combates coreografados e filmados, em parte, como se fossem em plano sequência. Talvez sejam várias tomadas com cortes invisíveis, mas a sensação é de um longo plano único. O que já é um alívio porque foge do padrão das produções contemporâneas que exageram nas quantidade de cortes de pouca duração. Porém, A Mãe do Ano não foge do uso de velocidades diferentes, lenta ou acelerada, outro clichê muito usado atualmente.
A primeira cena não é tão fiel ao conceito de plano sequência. Mistura planos de duração curta a média, e só na parte final vira tomada única. Há uma incômoda voz de vídeo game no meio dessa luta, talvez uma tentativa desastrada de extrapolar para algo mais maluco, que acaba não acontecendo. A segunda luta se aproxima de um videoclipe, com os golpes e os truques de aceleração e slow motion acompanhando a música. A terceira é mais crua, mas o plano sequência é interrompido com cena paralela do filho da protagonista descobrindo suas origens. Pelo menos em termos de ação, o filme dá conta do recado com essas três sequências de luta.
O novo Rakowicz
Já a trama certamente não demandou muito esforço dos realizadores. Acompanha a policial Nina (Agnieszka Grochowska), que precisa fingir que morreu porque foi jurada de morte. Mas ela continua acompanhando a vida de seu filho, que hoje está no fim da adolescência e vive com os pais adotivos. Para espantar o marasmo dessa existência clandestina, Nina entra em brigas pelas ruas, defendendo os mais frágeis. Até que bandidos sequestram seu filho por vingança, e ela faz de tudo para salvá-lo.
No entanto, o filme se enfraquece por causa da protagonista sem graça. Sem muita expressão, figurino básico, Nina não tem presença na tela. Ela só cresce mesmo nas cenas de luta, quando mostra grande agilidade e golpes habilidosos. Além disso, os vilões também são fracos. Um deles reúne todos os lugares comuns ao se construir um personagem do mal. Ou seja, nervosinho, sádico, pervertido e com visual careca punk. Já o traidor faz o típico engomadinho covarde, que não tem nenhuma capacidade física para lutar e quer lucrar sem se esforçar. Por fim, tem ainda uma burocrata desonesta com sua equipe de auxiliares bizarros. Esses tipos beiram a comédia.
Embale tudo isso em fotografia supersaturada, e o que temos em A Mãe do Ano é uma tentativa de ser um filme com violência pop. Mais Tarantino que Suzuki. Na verdade, nenhum dos dois, apenas Rakowicz.
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Ficha técnica:
A Mãe do Ano | Dzien Matki | 2023 | 94 min | Polônia | Direção: Mateusz Rakowicz | Roteiro: Mateusz Rakowicz, Lukasz M. Maciejewski | Elenco: Agnieszka Grochowska, Sebastian Dela, Szymon Wróblewski, Jowita Budnik, Ewa Rodart, Konrad Eleryk, Dorota Kolak, Paulina Chrusciel.