Casas ou, como nesse caso, apartamentos mal-assombrados podem render filmes de terror assustadores. A Casa da Noite Eterna (The Legend of Hell House, 1973), de John Hough, e Poltergeist (1982), de Tobe Hooper, são dois notáveis exemplos desse subgênero. E este A Maldição do Quarto 203 (Room 203) só funciona quando se concentra nessa linha, pois se perde ao explorar outras possibilidades.
Na trama, Kim (Francesca Xuereb) e sua melhor amiga Izzy (Viktoria Vinyarska) se mudam para um apartamento num prédio muito antigo. Antes disso, o prólogo já revelou que num dos seus quartos há um estranho buraco na parede que ninguém consegue tapar. É de lá que um rapaz tira um colar e presenteia sua namorada, que em seguida tem uma morte horripilante. Kim se instala nesse quarto com o buraco e começa a ter visões. Mas o espectador sabe que o perigo é real porque a assombração faz mais uma vítima no apartamento.
O terceiro longa do diretor Ben Jagger consegue criar um clima sombrio em volta desse misterioso buraco. Existe algum espírito ou coisa semelhante que causa mortes, se apodera de Izzy e ainda indica que algo está lá dentro (destaca-se a cena do ser com penas pretas que Kim vê entrar no buraco). Porém, o filme tenta explorar outros elementos, que acabam por enfraquecer a trama.
Perdendo o rumo
Entre esses elementos, está o personagem do proprietário do apartamento, que mora no mesmo andar. Um tipo esquisitão, evidentemente com más intenções, que age concretamente, diluindo o potencial sobrenatural construído ao redor daquele buraco na parede. Além disso, sua inclusão obriga o roteiro a criar uma história para justificar suas ações, e o que vemos é um relato clichê e de pouco impacto. Parece uma tentativa frustrada de mostrar vizinhos estranhos como os de O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby, 1968), de Roman Polansky.
Ademais, ao invés de afirmar o buraco como o centro da assombração, o enredo joga essa responsabilidade para a janela de vitral do apartamento, talvez para reunir indícios suficientes para a pesquisa de Kim e seu novo namorado. Da mesma forma, A Maldição do Quarto 203 erra ao localizar o confronto final no subsolo do edifício, novamente se afastando do conceito de apartamento mal-assombrado.
Pelo menos o filme tem um ritmo acelerado, pois vários eventos se sucedem e isso ajuda a engolir essa trama sem rumo definido. O diretor Ben Jagger espertamente evita a violência exagerada, presente no prólogo e no rápido plano da faca no olho, deixando algumas mortes em elipse. Evita, também, criar alguma aparição sobrenatural que, devido ao baixo orçamento da produção, tinha grandes chances de não convencer. Com isso, A Maldição do Quarto 203 consegue se manter numa cotação mediana – equivalente a um filme suportável.
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Ficha técnica:
A Maldição do Quarto 203 | Room 203 | EUA | 2022 | Direção: Ben Jagger | Roteiro: Ben Jagger, John Poliquin, Nick Richey | Elenco: Francesca Xuereb, Viktoria Vinyarska, Eric Wiegand, Scott Gremillion, Rick LaCour.
Distribuição: PlayArte.
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