A Maldição do Queen Mary parece um passeio num trem-fantasma – e isso não é um elogio. Acontece que o filme se desenrola de forma acelerada, em linhas curvas, sem rumo definido e com surpresas espalhadas pelo caminho. Os realizadores do longa devem ter se inspirado nos tours com estórias assustadoras a bordo do antigo navio de cruzeiro que foi aposentado para virar atração turística e hotel em Long Beach, na região de Los Angeles.
A trama do filme é dispersa e se torna confusa com as situações paralelas no presente e no passado, contadas fora de cronologia. Mas, para pelo menos situar o leitor desta crítica, podemos resumir que Anne (Alice Eve) pretende escrever um livro sobre o navio. Por isso, vai com seu filho, Lukas (Lenny Rush), ao local para, junto com o ex-marido Patrick (Joel Fry), conversar com o mais antigo empregado do Queen Mary. Enquanto isso, acompanhamos também um assassinato em massa ocorrido em 1938, pois um dos hóspedes supostamente enlouquece. Quando Lukas se perde e entra num local proibido do navio, o passado maldito volta à tona.
A narrativa se perde
A narrativa se embaralha por conta do excesso de construções imagéticas presentes no filme. Nesse quesito, há uma variedade imensa de recursos, que cabem no cinema fantástico. Entre eles, os travellings que atravessam os corredores e as diversas áreas do imenso navio. Parecem passeios dos espíritos assombrando o lugar. O filme traz, também, um salto num poço escuro sem fundo, bem como cenas violentas com sangue por todo lado. As imagens são bem construídas e representam o que o filme tem de melhor. Porém, a narrativa fica de lado, perde importância para essas elaborações visuais. E mesmo tendo uma duração longa para o gênero terror, deixa de fora momentos cruciais, como a possessão do serial killer do passado e o desaparecimento do filho.
Pelo menos, não falta ousadia ao diretor Gary Shore. Por exemplo, para revelar a origem de toda a maldição, num passado mais remoto, recorre a uma inesperada sequência de animação. Além disso, inclui até um número musical, retratando uma apresentação de Fred Astaire num jantar no cruzeiro. Contudo, Gary Shore não soube equilibrar essa criatividade com a necessidade de contar a estória. E a longa duração prejudica, pois dá espaço para que ele se afunde mais em seu maneirismo. Nesse sentido, o trecho de dança se estica desnecessariamente e os travellings se repetem várias vezes. O filme parece nunca terminar.
Como resultado, as imagens que se sucedem sem pé nem cabeça, a trama confusa e o quebra-cabeças temporal acabam afundando A Maldição do Queen Mary. Este é apenas o segundo longa do diretor Gary Shore. Quem sabe nos seus próximos filmes ele consiga dosar melhor sua inventividade.
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Ficha técnica:
A Maldição do Queen Mary | Haunting of The Queen Mary | 2023 | 125 min | EUA, Reino Unido | Direção: Gary Shore | Roteiro: Gary Shore, Stephen Oliver | Elenco: Alice Eve, Angus Wright, Joel Fry, Lenny Rush, Nell Hudson, Jim Piddock, Dorian Lough.
Distribuição: Diamond Films.
Veja o trailer aqui.