Primeiro longa do diretor Matthew J. Saville, A Matriarca (Juniper) se configura como um melodrama ponderado. Essa produção da Nova Zelândia reúne um núcleo familiar em frangalhos, muito comum no gênero.
Ruth (Charlotte Rampling) é a mãe de Robert (Marton Csokas) e avó de Sam (George Ferrier). Apesar de nunca a ter perdoado por não dizer quem é seu pai, Robert a recebe para morar em sua casa por umas semanas, junto com sua enfermeira, pois está com a perna quebrada. Estudando em um internato desde a morte da mãe no ano anterior, Sam só verá a avó, a quem mal conhece, nos fins de semana. Alcoólatra e grosseira, Ruth não se esforça para agradar ao neto – a ninguém, na verdade. Mas a convivência próxima talvez reate esses laços familiares.
Reconstrução familiar
A frágil saúde de Ruth, mais grave do que aparenta, constitui o alicerce dessa reconstrução. Que, porém, começa pelas tangentes.
Sam se culpa por não ter feito tudo o que a mãe dele queria quando ela estava morrendo. Tenta o suicídio, mas o cavalo que era dela o salva, em um delicado momento quase fantástico no filme.
A relação entre Ruth e Sam começa com atritos e até agressões mútuas. Mas a bebida – vício para ela e perdição para ele – abre as portas para uma reconciliação. O ponto de virada, para o rapaz no fim da adolescência, são as fotos do passado de Ruth, herança de seu trabalho registrando guerras ao redor do mundo. O material instiga em Sam a humanização de sua avó. Ele reconhece que Ruth não foi sempre uma mulher inválida, bêbada e mal-educada. Pelo contrário, ela teve uma vida cheia.
Sam testemunha esse outro lado da sua avó quando ela o incentiva a dar uma festa para os amigos na casa do ausente Robert. Todos se divertem, inclusive Ruth, que demonstra que não é nada careta. Quando, finalmente, a compreende melhor, Sam é capaz até de contribuir para que o pai supere as amarguras do passado em relação a Ruth.
A tristeza das pessoas comuns
A Matriarca produz esse arco narrativo sem apelações sentimentais. O que acontece na estória se insere dentro do limite do sensato, fugindo disso apenas naquele episódio do cavalo. A tristeza pela aproximação da morte não é compensada com instantes forçados de alegria artificial. Há diversão, há compreensão, há melancolia, mas sempre num tom circunspecto, o que reverbera em um drama naturalista, próximo do que qualquer pessoa comum pode vivenciar.
A direção de Matthew J. Saville, que também é o autor do roteiro, mantém coerência com a ponderação do enredo. Segue o cinema clássico, sem invenções que poderiam causar ruído na estória. O resultado prima pela sensatez, traduzido na tristeza das pessoas comuns.
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Ficha técnica de “A Matriarca”:
A Matriarca | Juniper | 2021 | 94 min | Nova Zelândia | Direção: Matthew J. Saville | Roteiro: Matthew J. Saville | Elenco: Charlotte Rampling, Marton Csokas, George Ferrier, Edith Poor, Cameron Carter-Chan, Carlos Muller, Tane Rolfe.
Distribuição: Pandora Filmes.
Assista ao trailer aqui.