A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise) se inicia num cenário que pertence à franquia de Sam Raimi. Logo na abertura, a câmera faz um voo sobre um riacho no meio da floresta, como se fosse um espírito maligno, o mesmo dos filmes anteriores, se dirigindo até sua próxima vítima. Mas quando se aproxima de uma garota e ela se assusta, descobrimos que é apenas um drone. Então, segue-se uma sequência aterrorizante de verdade, num chalé perto do rio, que parece ser o local onde a história se desenrolará.
Mas, tal como o drone nos enganou, esse prólogo também não é o flash forward como se apresenta ser. Após a ostentosa aparição do título do filme, a trama de fato se inicia, um dia após esse acontecimento. A tapeação só será revelada na última cena do filme, enquanto isso cria um incômodo trabalho para nós espectadores, pois durante duas horas procuramos os personagens dessa abertura no enredo principal, e tentando descobrir o que ela tem a ver com o que estamos assistindo. A enganação funciona, mas qual a intenção disso? Acaba por desviar a atenção da trama central, sem acrescentar nada de útil, a não ser que incomodar com essa quinquilharia seja intenção dos realizadores.
Num ambiente urbano
Na verdade, o enredo se passa longe das florestas, contrariando a tradição da franquia. O ambiente isolado aqui é um prédio condenado, onde Ellie (Alyssa Sutherland) passa seus últimos dias antes do fechamento do local. Com ela, vivem seus filhos Bridget (Gabrielle Echols), Danny (Morgan Davies) e a pequena Kassie (Nell Fisher), num ambiente caótico. Já seguindo o que sempre acontece nesses filmes Evil Dead, o despertar do demônio acontece quando Danny encontra o Livro dos Mortos nesse prédio. A vítima da possessão é Ellie, e os seus filhos combatem os ataques do demônio em seu corpo com a ajuda da tia Beth (Lilly Sullivan).
Durante as primeiras investidas da Ellie possuída, embora assustadoramente maquiada, não vemos nada de muito original. O que chama mais atenção é o ritmo frenético, sem nenhuma pausa para alívios, como acontece no primeiro Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (The Evil Dead, 1981). Mas este filme novo tem duas horas, enquanto esse da década de 80 tinha apenas uma hora e vinte e cinco minutos. A Morte do Demônio: A Ascensão não conseguiria se sustentar só se apoiando no seu ritmo acelerado.
Referências inspiradoras
Então, talvez percebendo essa limitação, o filme cresce. Começa a apresentar ideias criativas dentro de um gênero que muitas vezes se apoia nos clichês. O primeiro momento diferenciado é a câmera fixa que mostra o ponto de vista de quem espia pelo olho mágico da porta. De lá, como um voyeur, vemos o que a Ellie endemoniada está aprontando no hall com os moradores do andar. Os sustos, claro, fazem parte dessa experiência. O diretor Lee Cronin (que também é o roteirista) fez antes o terror The Hole in the Ground (2019) e, provável entusiasta do gênero, busca referências para incrementar este seu segundo longa.
Assim, ele retoma a cena do elevador que jorra sangue de O Iluminado (The Shining, 1980) e o eleva a um novo exponencial. Além de mostrar o rio de sangue quando as portas se abrem, Cronin coloca os personagens dentro do elevador, que está transbordando de sangue. O banho de sangue, aliás, remete à própria franquia, mas sem o exagero do último filme, A Morte do Demônio (Evil Dead, 2013). As doses são menores, mas mais que o suficiente para que todo o cenário pareça úmido de tanto fluído vermelho. Junte-se a isso um monstro formado por pessoas possuídas todas unidas em um só corpo distorcido. Lembra até as criaturas lovecraftianas de A Hora dos Mortos-Vivos (Re-Animator, 1985) e Do Além (From Beyond, 1986), ambos de Scott Gordon.
Dessa forma, a criatividade e o ritmo tenso tornam a sua segunda metade excepcional.
Mas, no epílogo, o filme nos faz lembrar daquele trecho inicial, trazendo à tona o incômodo que a melhora da segunda parte em diante já nos tinha feito esquecer. A explicação faz sentido, mas o truque prejudica a fruição completa desse terror acima da média.
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Ficha técnica:
A Morte do Demônio: A Ascensão | Evil Dead Rise | 2023 | 97 min | Nova Zelândia, EUA, Irlanda | Direção e roteiro: Lee Cronin | Elenco: Lilly Sullivan, Alyssa Sutherland, Gabrielle Echols, Morgan Davies, Nell Fisher, Mirabai Pease, Richard Crouchley, Anna-Maree Thomas, Noah Paul.
Distribuição: Warner Bros. Pictures.
Trailer:
Assista em: https://youtu.be/LbC_OoybnUg