Durante cinco anos, Gam-hee (Kim Min-hee) nunca ficou longe do seu marido. Mas, por alguns dias, ele parte para uma viagem de negócios, e Gam-hee tem a oportunidade de visitar algumas amigas. A Mulher que Fugiu (Domangchin yeoja, 2020) a acompanha em três encontros, que lhe permitem arejar as suas ideias e refletir sobre diferentes alternativas de relacionamento.
Na primeira visita, encontra sua amiga divorciada vivendo com uma mulher masculinizada. Nessa breve estadia, a tranquilidade da amiga só é quebrada pelo vizinho que quer que elas parem de alimentar os gatos da rua.
No segundo encontro, Gam-hee revê uma amiga que está solteira e à procura de um companheiro. Parece uma vida divertida, aberta ao surgimento de aventuras apaixonadas. Porém, a visita inoportuna de um paquera stalker revela o lado ruim de sair com homens desconhecidos.
Por fim, Gam-hee acidentalmente se vê cara a cara com a mulher que roubou seu antigo namorado e se casou com ele. Aparentemente, não há mais mágoas, e a amiga confidencia que o marido mudou muito desde a época em que Gam-hee o conheceu. Ao encontrá-lo na saída, isso fica evidente, e lhe causa desapontamento.
A direção
Em A Mulher que Fugiu (Domangchin yeoja, 2020), o diretor sul-coreano Hong Sang-soo mantém seu estilo minimalista e contido. Os diálogos são o principal fio condutor das tramas, e Hong Sang-soo filma usando predominantemente a câmera fixa. Insiste em usar o zoom e o movimento lateral para alternar os personagens na tela, ao invés de usar os cortes clássicos. Com isso, consegue manter os planos longos sem interrupções, o que favorece os diálogos que são abundantes.
Além disso, mantém as emoções contidas. Isso salta aos olhos na discussão do primeiro trecho do filme, quando a amiga discute com o vizinho sem se agredirem. Da mesma forma, a protagonista Gam-hee prefere se despedir rapidamente do antigo namorado, que se mostra muito frio, do que mostrar a sua decepção.
Há um certo rigor estrutural nos três episódios. Todos começam com o personagem que será visitado em uma situação cotidiana. Depois, vem o encontro e a conversa com Gam-hee, e logo em seguida um momento de conflito. Por fim, uma visão pela janela fechando o capítulo. Mas, o epílogo guarda uma variação nesse desfecho. Nele, a protagonista volta para a sala de cinema onde estava, e a tela faz as vezes da janela. Curiosamente, ela assiste à mesma cena que viu antes, como se preferisse ver o passado pelas lembranças, pois o antigo namorado já não é o mesmo homem que ela uma vez amou.
Novamente filmando sua musa Kim Min-hee, o diretor Hong Sang-soo brinda seus apreciadores com um mais um olhar sobre relacionamentos pessoais.
