A Revolução em Paris conta todo o processo da Revolução Francesa. Para tal, segue uma narrativa ficcional para tornar a lição de história mais atraente.
A narrativa ficcional se concentra na jovem Françoise. Ela é uma das muitas parisienses de classe baixa que participou dos movimentos populares que levaram ao fim da monarquia na França. O nome da protagonista já diz que ela representa o povo do seu país. Por isso, como uma espécie de Forrest Gump, ela está onipresente em todos os momentos importantes da revolução.
Queda da Bastilha
O filme começa em 14 de julho de 1789, com a queda da Bastilha, fortaleza usada para encarceramento político nos mais terríveis tempos da monarquia absolutista. Para ilustrar poeticamente o fato, A Revolução em Paris mostra uma torre sendo derrubada e o sol voltando a iluminar a rua escura onde vive a protagonista Françoise.
Os trechos musicais aproveitam a cantoria do povo, que faz coro das canções, sem o uso de instrumentos ao fundo. O efeito mantém a fidelidade dos relatos, proporcionando um resultado mais harmonioso do que se o seu diretor, Pierre Schoeller, tivesse optado por refletir as características de filmes musicais, ou mesmo, se usasse trilha sonora. De fato, a música que se origina de dentro da própria cena se encaixa bem nesse estilo semidocumental de cinema.
Fatos históricos
E, realmente, A Revolução em Paris se presta como instrumento para se aprender sobre o fato histórico objeto de sua trama. Para isso, até mesmo estão presentes os letterings na tela com as datas dos eventos. No mesmo sentido, a votação na Assembleia Nacional para decidir sobre a pena ao rei deposto chega até a exibir o nome de cada membro que sobe ao palanque para declarar seu voto pessoalmente. Aliás, essa cena evidencia a influência francesa na modelagem do sistema política usado até hoje, inclusive no Brasil.
Esse debate de ideias, às vezes, se torna cansativo para o espectador. Contudo, ele reflete a intenção do diretor de se isentar de expressar sua opinião particular, em todos os momentos dessa revolução. Por isso, após a decapitação de Luís XVI em praça pública, a maior parte do povo festeja, mas a tela fica avermelhada e o sangue do ex-monarca surge em meio à celebração, mostrando os dois lados desse episódio polêmico.
Reconstrução documental
Por outro lado, alguns trechos aproveitam o uso da ficção com a reconstrução documental. Assim, nos confrontos entre os revoltosos com as tropas militares, essa mistura permite destacarmos e acompanharmos alguns personagens individuais. Dessa forma, nos aproximamos mais do relato do que se retratasse apenas a massa popular. Nesse sentido, vale destacar a sequência onde acompanhamos em paralelo a votação na Assembleia e o pai de Françoise ensinando o seu ofício de vidreiro para o seu genro. Com isso, a cena simboliza o nascimento de uma nova França para uma nova geração.
Porém, o filme falha ao deixar de explorar mais os personagens ficcionais, que nunca chegam a ganhar a empatia do público. Por isso, A Revolução em Paris vale mais como uma aula de História do que como uma narrativa que emociona.
Ficha técnica:
A Revolução em Paris (Un peuple et son roi, 2018) França/Bélgica. 121 min. Dir/Rot: Pierre Schoeller. Elenco: Gaspard Ulliel, Adèle Haenel, Olivier Gourmet, Louis Garrel, Izïa Higelin, Noémie Lvovsky, Céline Sallette.
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