A Saga do Judô Parte 2 dá sequência ao filme de estreia de Akira Kurosawa como diretor de cinema. Ainda possui alguns momentos de destaque, mas é inferior à primeira parte. O cineasta não estava nem um pouco interessado em realizar essa continuação, conforme afirmação que consta no livro “The Films of Akira Kurosawa”, de Donald Richie.
O enredo
A história se passa em 1887, cinco anos depois dos acontecimentos de A Saga do Judô. A presença norte-americana em território japonês já é uma realidade, e a primeira sequência indica uma clara aversão a esses estrangeiros. Nela, um marinheiro grandalhão dos EUA espanca um pequeno condutor local de riquixá. Sugata Sanshiro intervém e luta com o estrangeiro, jogando-o no mar. Em outro momento, corroborando essa ideia, um velho critica a ocidentalização dos jovens japoneses.
E os americanos querem provar a sua superioridade também no esporte de lutas. Sanshiro testemunha um boxeador derrotar impiedosamente um lutador de jiu jitsu, em cima do ringue.
No entanto, outra mudança na conjuntura da época afeta diretamente Sugata Sanshiro. Se no primeiro filme, o judô era a novidade que substituía o tradicional jiu-jitsu, agora surge o caratê para desafiar o judô. Então, dois caratecas, irmãos do lutador de jiu jitsu derrotado por Sanshiro, agora querem que o judoca os enfrente.
Pessoalmente, Sanshiro se sente angustiado porque se sente culpado por levar o jiu jitsu, e seus lutadores, à falência. E o mestre lhe diz que ele ainda precisa amadurecer.
Mas a história de A Saga do Judô Parte 2 não dá oportunidade para o crescimento espiritual de Sanshiro, como aconteceu no primeiro filme. Ele logo parte para a ação, enfrentando o boxeador e o lutador de caratê. A última cena, que mostra um close de Sanshiro triunfante, parece contradizer a ideia do amadurecimento. A aparente vaidade por seu triunfo o afasta do aprimoramento que um judoca deveria alcançar.
O toque de Kurosawa
Contudo, alguns momentos salvam A Saga do Judô Parte 2 de ser um filme ruim. A luta de Sanshiro com o boxeador é empolgante. Desviando-se dos golpes previsíveis do americano, o judoca consegue contra golpear e arremessá-lo violentamente ao solo. É uma forma convincente de mostrar a vitória dessa luta marcial tão diferente do boxe. No final dessa sequência, Kurosawa cria uma montagem que funciona bem para criar suspense, juntando fotogramas estáticos dos presentes em silêncio, aguardando se o boxeador sucumbirá ao nocaute.
Outro belo momento é aquele em que Sanshiro e seu mestre duelam para ver quem fica mais tempo meditando sem dormir. Lado a lado, os dois estão de costas. Atrás de Sanshiro, o fogo do forno queima; atrás do mestre, nada. Assim, o fogo espertamente simboliza que o lutador mais jovem está ainda inquieto.
Além disso, antecipando a nouvelle vague, Kurosawa quebra a montagem de uma cena simples onde a namorada de Sanshiro lhe pergunta quanto tempo levará para ele retornar. Ao invés de um plano simples, com contraplano, o diretor coloca a moça perguntado em vários planos em diferentes ângulos.
Mas A Saga do Judô Parte 2 deixa uma má impressão com o duelo final com o carateca. O clímax do filme acaba sendo o seu ponto fraco. Ao contrário do que vimos no primeiro filme, agora a luta é bem lenta. O lutador de caratê grita, faz caretas, mas quase nunca ataca. E, Sanshiro, como luta tentando o contra golpe, só fica esperando.
A história de A Saga do Judô possuía início, meio e fim. Mas, essa segunda parte acaba por mostrar o protagonista Sanshiro menos preparado do que quando concluiu o primeiro filme. Por isso, essa sequência se torna totalmente dispensável, como o próprio Kurosawa previa que seria.
Ficha técnica:
A Saga do Judô Parte 2 (Zoku Sugata Sanshiro, 1945) Japão. 83 min. Dir/Rot: Akira Kurosawa. Elenco: Susumu Fujita, Denjiro Okochi, Ryunosuke Tsukigata, Akitake Kono, Yukiko Todoroki, Soji Kiyokawa, Masayuki Mori, Seiji Miyaguchi.
O filme A Saga do Judô Parte 2 foi lançado em dvd no Brasil pela Versátil Home Video.