Em seu segundo longa, A Terra Treme, Luchino Visconti abraça sua ideologia comunista em um projeto ambicioso. Inicialmente, foi concebido como uma trilogia sobre os trabalhadores explorados pelos mais poderosos. Esse primeiro leva o subtítulo “Episódio do Mar”, e exemplifica a dura vida dos pescadores na Sicília. Os outros episódios levariam para as telas os dramas dos camponeses e dos mineradores. A revolta desses grupos essenciais da economia do país provocaria um tremor nas terras. Mas esses dois outros filmes nunca foram realizados.
Além disso, Visconti se volta novamente para o neorrealismo italiano. Mais até do que em sua estreia, Obsessão (1943), pois junto com o tema e as locações que retratam a vida da classe baixa, o diretor utiliza aqui somente atores não profissionais, uma das características mais marcantes desse movimento cinematográfico em seu início. O filme chega a se aproximar de um documentário, principalmente nos planos gerais que mostram o coletivo dos pescadores e moradores em suas rotinas diárias. Uma narrativa em terceira pessoa ajuda a explicar essa realidade. São sequências longas, sem aparente intervenção ficcional, que descrevem com autenticidade como era a vida na vila pesqueira.
A ficção
Mas, A Terra Treme possui uma linha narrativa ficcional muito atraente. Explorando o preceito de que se parte do individual para se chegar ao universal, o enredo se concentra em Ntoni (Antonio Arcidiacono), jovem de uma família de pescadores que se rebela contra o sistema injusto em que trabalham. Como acontece com todas as famílias de pescadores da vila, eles vendem o que pescam para os mesmos mercadores de sempre, que pagam uma ninharia e depois vendem a preços bem mais altos. Ntoni tenta convencer a comunidade a se unirem para negociar melhores condições, mas os pescadores mais velhos não aceitam esse risco.
Depois de criar uma confusão enfrentando os atravessadores e ser preso, Ntoni tenta uma empreitada individual. Hipoteca a casa da família e investe em pescar, manufaturar e vender seus peixes. Após insuflar o povo para a solução da união entre os trabalhadores, Visconti então entra no melodrama para reforçar que o capitalismo não dá oportunidades para os pequenos competirem com os poderosos. O desfecho melancólico só consolida a ideia de que a melhor proposta para reverter esse quadro de exploração de trabalhadores é através da união.
Enfim, A Terra Treme é um filme marcante. Levanta uma bandeira política sem muitos disfarces, e sua fraqueza aparece somente nas cenas que mostram o cotidiano das personagens periféricas.
___________________________________________
Ficha técnica:
A Terra Treme | La Terra Treme | 1948 | Itália | 160 min | Direção: Luchino Visconti | Roteiro: Antonio Pietrangeli, Luchino Visconti | Elenco: Antonio Arcidiacono, Giuseppe Arcidiacono, Rosa Catalano, Nellucia Giammona, Rosario Galvagno, Nicola Castorino.