Antes de mais nada, alertamos que essa crítica contém spoilers. A Última Noite (Silent Night, 2021) coloca muita amargura na noite mais doce do ano. Sua história soa desconcertante e muito original.
O cinema já produziu várias alternativas aos típicos filmes natalinos em dramas, como Um Novo Começo (Happy Christmas, 2014), e até terror, vide Natal Sangrento (Silent Night, Deadly Night) de 1984. Porém, este longa de estreia da diretora Camille Griffin trabalha o Natal como o último dia de vida para boa parte da humanidade.
Durante quase 30 minutos de filme, acompanhamos um grupo de amigos, com suas famílias, se reunindo na casa de Nell (Keira Knightley) para a véspera de Natal. Não sabemos que o apocalipse se aproxima, por isso, o comportamento dessas pessoas parece tremendamente esquisito. Pensamos até que o roteiro foi muito mal escrito. Mas, tudo se torna compreensível quando descobrimos que eles se reuniram para morrerem juntos. Na hora derradeira, tomarão uma pílula mortal fornecida pelo governo, evitando, assim, o sofrimento que pode causar o gás venenoso que se aproxima deles numa nuvem de proporções gigantescas.
A Última Noite tem gosto ainda mais amargo porque revela descrença na humanidade. Esse último encontro poderia servir como oportunidade de compartilharem os últimos momentos de vida em companhia das pessoas que amam. Porém, essa perspectiva de fim se transforma em cenário para colocar para fora todas as mágoas que sentem um pelo outro.
Personagens
No entanto, os vários personagens do filme não parecem bem delineados. Por falta de uma caracterização distintamente individualizada, eles se confundem. Com isso, o comportamento descontrolado reflete o grupo como um coletivo. Nesse sentido, a personagem grávida se diferencia porque quer optar por não tomar a pílula mortal. Há um conflito moral para ela, pois seu suicídio implicaria no assassinato de seu bebê ainda em gestação.
Contudo, o único que ousa duvidar da necessidade do suicídio é o menino Art (Roman Griffin Davis), que se questiona. E se a nuvem de gás não matar as pessoas? Dessa forma, o garoto representa a única fagulha de esperança em meio à descrença total na sobrevivência. E o filme defende que não se deve desistir, pelo menos é o que parece sugerir o desfecho. Por outro lado, Art questiona a ciência e isso pode ser interpretado extensivamente para a atual situação de pandemia, o que representa um grande perigo, pois a ciência é a melhor ferramenta que temos para combater essa crise.
Direção e elenco
A Última Noite conta com um elenco de nomes conhecidos, encabeçado por Keira Knightley, Matthew Goode e Annabelle Warris. E, também, Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis. Além disso, a produção tem seu lado familiar. Afinal, a diretora e roteirista Camille Griffin dirige seus filhos Roman Griffin Davis (de Jojo Habbitt, Hardy Griffin Davi e Gilby Griffin Davis interpretando irmãos no filme.
Enfim, certamente A Última Noite não é o filme natalino típico, e ainda se destaca entre as variações possíveis. Sua ideia provocadora, no entanto, merecia um roteiro mais azeitado.
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Ficha técnica:
A Última Noite | Silent Night | 2021 | Reino Unido | 92 min | Direção e roteiro: Camille Griffin | Elenco: Keira Knightley, Matthew Goode, Roman Griffin Davis, Annabelle Wallis, Lily-Rose Depp, Sope Dirisu, Kirby Howell-Baptiste, Lucy Punch, Rufus Jones, Davida McKenzie, Hardy Griffin Davis, Gilby Griffin Davis.
Distribuição: Paris Filmes.