Em muitos casos, não é preciso consultar a ficha técnica para perceber que estamos diante do primeiro filme de um diretor. O entusiasmo de cineastas estreantes fica estampado na tela, no capricho com cada detalhe, nas várias ideias esprimidas em uma mesma cena, na recusa a filmar no automático. Isso tudo encontramos em A Última Parada do Arizona (The Last Stop in Yuma County), de Francis Galluppi, logo nos primeiros trechos, quando muito da narrativa é contada nos detalhes. A crucial informação sobre dois assaltantes em fuga na região, por exemplo, está nas notícias do rádio. Da mesma forma, o espectador descobre que a espera pelo caminhão de combustível será longa, pois o veículo tombou na estrada (repare a variedade de planos que o diretor usa nessa cena).
Cada plano e cada enquadramento são visivelmente planejados para causar o impacto que a narrativa exige. Não há, portanto, tempos mortos. Tudo que está no filme colabora para a história. Lembra muito o estilo virtuoso de Arizona Nunca Mais (Raising Arizona, 1987), um dos primeiros longas de Joel e Ethan Coen. Aliás, até no título nacional, por citar o mesmo estado americano.
A trama
O roteiro, de autoria do próprio Francis Galluppi, colabora para o ritmo frenético do filme. Primeiro, cria um enorme suspense ao reunir na lanchonete de um afastado posto de gasolina no condado de Yuma alguns viajantes que esperam a chegada do caminhão de reabastecimento de combustível, pois as bombas estão com estoque zerado. Além do frentista e da garçonete, estão no local um vendedor de facas, um casal de idosos e dois perigosos assaltantes de banco em fuga. A trama acontece nos anos 1970, quando ainda não existiam os telefones celulares, o que dificulta que chamem a polícia. Mais personagens entram nessa história, todos com características próprias bem evidenciadas que os tornam imediatamente reconhecíveis, e com um pé no cômico.
O clímax acontece na metade do filme, e é surpreendente. A cena contrasta a violência e a balada “Crying”, de Roy Orbison, enquanto o slow motion providencia o toque estilístico adequado. Junto com o banho de sangue, se sobressai uma crítica subtextual sobre a facilidade de acesso a armas, pois quase todos os personagens carregam um revólver. Esse trecho serve, ainda, para indicar a troca do suspense pelo drama do dilema ético de quem sobreviveu ao confronto. Embora essa segunda metade não ostente a força da tensão que dominou o espectador até então, traz também desfechos inesperados.
Em meio a uma vastidão de produções impessoais e burocráticas, A Última Parada do Arizona é um bem-vindo turbilhão de criatividade e ousadia. Francis Galluppi inicia sua carreira com disposição própria de quem quer se destacar como diretor autoral.
Ficha técnica:
A Última Parada do Arizona | The Last Stop in Yuma County | 2023 | 90 min. | EUA | Direção: Francis Galluppi | Roteiro: Francis Galluppi | Elenco: Jim Cummings, Jocelin Donahue, Faizon Love, Michael Abbott Jr., Nicholas Logan, Richard Brake, Barbara Crampton, Gene Jones, Robin Bartlett, Connor Paolo, Ryan Masson, Sierra McCormick.