A Vingança de Cinderela é mais uma das adaptações para terror de contos clássicos infantis que têm estreado nos cinemas brasileiros recentemente. Entre elas, os dois filmes com o Ursinho Pooh (em 2023 e 2024), O Malvado: Horror no Natal (2022), e Alice no País das Trevas (2023). A própria Cinderela ganhou uma outra versão, A Maldição de Cinderela (2024), dirigida por Louisa Warren.
Este filme da vingança é um pouco superior ao da maldição, mas igualmente só agrada àqueles fãs de filminhos de terror B que se divertem com a baixa qualidade do que assistem. Desta vez, o enredo guarda uma suficiente relação com o material original – o que a outra versão desprezou, inclusive construindo uma Cinderela nada simpática.
A trama de A Vingança de Cinderela segue basicamente o conto escrito por Charles Perrault. Mas, como era de se esperar, aproveitando as oportunidades para inserir o terror. Por exemplo, ao mostrar a explícita decapitação do pai de Cinderela a mando da sua madrasta, e os constantes castigos com chibatadas sofridos pela protagonista. Esta, por sinal, desperta a afeição do espectador com a sua meiguice, mesmo com uma atuação fraca da atriz Lauren Staerck.
Fidelidade e anacronismo
A fidelidade ao original continua até a busca que o príncipe inicia para encontrar a bela moça que o encantou no baile. Porém, com uma liberdade cômica ousada que funciona. A fada é interpretada por Natasha Henstridge, que aproveita sua imagem de musa do gênero fantástico nos anos 90, para construir uma personagem cheia de carisma. Afinal, ela é implacável com as inimigas da sua protegida. A fada surge sempre de surpresa e força a aplicação de suas intenções. E a inesperada graça está no anacronismo dos seus truques mágicos.
Assim, ela traz especialistas famosos contemporâneos para criar o vestido, os sapatos, e o cabelo de Cinderela. E, no lugar da carruagem transformada a partir de uma abóbora, um carro elétrico dirigido por Elon Musk.
Cinderela para adultos
Porém, o filme não tem muito mais a oferecer. O seu diretor, Andy Edwards, nem deve se preocupar tanto com o que entrega – o que lhe importa é entregar. Usa uma fotografia escura demais, ou com uma fonte de luz atrás dos personagens, para tentar em vão criar ume feito de névoa. Além disso, as cenas parecem apressadas. Por isso, não consegue transmitir a paixão que surge entre Cinderela e o príncipe no baile, essencial para a história.
E, quando começa a matança vingativa de Cinderela, falta algo para expressar a transformação da heroína em justiceira sanguinária. O problema é que a fada precisa convencê-la, a raiva dela não parece suficiente. Além disso, a máscara que ela usa reduz ainda mais o efeito de uma desforra pessoal. Seguem-se, então, ideias dispersas, sem nenhuma justificativa – como os olhos arrancados, que deveriam guardar relação com alguma atitude da meia-irmã contra ela.
Para terminar, ainda inserem uma nudez gratuita no final, talvez apenas para atestar que essa é uma versão de Cinderela para adultos. Mas esta e outras adaptações recentes para gente grande de contos infantis comprovam que as crianças estão mais bem servidas.
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Ficha técnica:
A Vingança de Cinderela | Cinderella’s Revenge | 2024 | 85 min. | EUA | Direção: Andy Edwards | Roteiro: Tom Jolliffe | Elenco: Lauren Staerck, Natasha Henstridge, Stephanie Lodge, Beatrice Fletcher, Megan Purvis, Darrell Griggs, William Marshall, Peter Watson, Mike Kelson, Raj Singh.
Distribuição: A2 Filmes.
Trailer:
https://youtu.be/EJqjDKe6lBg?si=vQ6J0TLq6Jx2B7NM