Após duas fracassadas incursões no universo fantástico juvenil, M. Night Shyamalan retoma o seu rumo com A Visita (The Visit, 2015). Para isso, alia-se à Blumhouse, a exitosa produtora independente de Jason Blum, especializada no gênero terror.
A carreira de Shyamalan parecia à deriva diante dos fraquíssimos O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, 2010) e Depois da Terra (After Earth, 2013). De fato, essas duas decepções provaram que o seu talento tem um limite de alcance em relação a público. E esse limite corresponde a Corpo Fechado (Unbreakable, 2000), que consegue transitar no mundo das HQs sem perder a agudeza de suas melhores obras.
As suas intenções em A Visita parecem claras: sustos e uma surpresa no final. Assustar o filme certamente consegue, já surpreender levanta senões.
Assustar
Enquanto a mãe (Kathryn Hahn) embarca num cruzeiro de cinco dias com o namorado, seus filhos pré-adolescentes Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) passam esse tempo na fazenda dos avós, que finalmente conhecerão os netos. Porém, esses idosos apresentam comportamentos terrivelmente estranhos.
Como Becca quer gravar um filme para ajudar na reconciliação da mãe com os avós, acompanhamos grande parte de A Visita através das imagens que a garota capta em sua câmera digital. Tal recurso remete ao found footage de Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2009), o primeiro estrondoso sucesso da produtora Blumhouse. O estranho é que Shyamalan não diferencia quais imagens são da câmera de Becca e quais pertencem ao longa em si. É certo que as câmeras digitais hoje podem captar com qualidade próxima de equipamentos profissionais, mas essa falta de distinção no filme obriga o espectador a deduzir sobre esse aspecto a todo momento. E, isso desvia sua atenção da história, e atrapalha a sua fruição plena. Por outro lado, a visão subjetiva torna assustadores os esquisitos passeios da avó (Deanna Dunagan) durante a noite.
Em contraponto, o engraçado personagem Tyler garante alguns momentos cômicos. Desinibido, ele sempre interfere nas filmagens da irmã, gravando seus raps e apresentações exageradas para conseguir a fama nas redes sociais.
Surpreender
Quanto à tentativa de surpreender com uma revelação bombástica, essa dificilmente funciona. O roteiro entrega pistas demais – em especial, as visitas dos colegas da clínica – e o espectador logo descobre o que há de errado na fazenda. Nessa questão, Shyamalan devia ter seguido os ensinamentos de Alfred Hitchcock. Ou seja, devia desvendar esse segredo para o público. Dessa forma, criaria um enorme suspense, pois todos torceriam para que as crianças também descobrissem a verdade e fugissem de lá. No entanto, o cineasta preferiu seguir o modelo de seu filme de maior prestígio, O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999).
A ideia central de A Visita resgata os medos infantis a respeito do desconhecido mundo dos mais velhos. Com esse fundamento, o filme assusta, mas poderia ser muito mais tenso se Shyamalan não priorizasse a surpresa. Mas, acima de tudo, é um título essencial que resgata a carreira desse talentoso diretor.
___________________________________________
Ficha técnica:
A Visita | The Visit | 2015 | EUA | 94 min | Direção e roteiro: M. Night Shyamalan | Elenco: Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Deanna Dunagan, Peter McRobbie, Kathryn Hahn, Celia Keenan-Bolger, Patch Darragh, Jorge Cordova.