Nos Estados Unidos, o filme Abracadabra (Hocus Pocus, 1993) se tornou cult mesmo após uma estreia fracassada. Tornou-se uma tradição do Halloween, sempre com reprises nessa época do ano. No Brasil, o efeito não se repete, mas a fantasia juvenil sobre três bruxas do século 17 que chegam aos tempos atuais possui seus seguidores. Por isso, a Disney Plus se esforça para chamar seus assinantes internacionais para verem a sequência Abracadabra 2 (Hocus Pocus 2), que chegou hoje à plataforma de streaming em lançamento mundial.
Embora com muito atraso, a nova produção pelo menos consegue reunir o trio de protagonistas, um ingrediente indispensável para resgatar a nostalgia dos fãs. Assim, Bette Midler, Sarah Jessica Parker e Kathy Najimy se reúnem novamente para formar as bruxas conhecidas como As Irmãs Sandersons. Repetindo o que aconteceu em 1993, após serem queimadas em Salém em 1693, elas são novamente revividas, desta vez por Becca (Whitney Peak) e Izzy (Belissa Escobedo), duas garotas de 16 anos da cidade. Elas tentarão impedir a vingança das bruxas contra o prefeito de Salém, que é descendente do sacerdote que liderou a execução delas no passado. Juntam-se às adolescentes a amiga Cassie (Lilia Buckingham), filha do prefeito e novo alvo das Sandersons.
Magias em ritmo desacelerado
Na cadeira de diretor, ocupado por Kenny Ortega no primeiro filme, está a cineasta Anne Fletcher. Ela se tornou conhecida dirigindo comédias românticas, como Vestida para Casar (27 Dresses, 2008) e A Proposta (The Proposal, 2009). Mas, provavelmente, pesou na sua escolha sua vasta experiência como coreógrafa assistente, já que Abracadabra 2 investe forte nos trechos musicais. Aliás, a música tema tem autoria de Elton John e Bernie Taupin, só para você ter uma ideia. Logo quando as bruxas voltam à vida, elas já entram em cena cantando e dançando. E, num momento posterior, uma multidão enfeitiçada dança pelas ruas da cidade.
Esse número musical na feira de Halloween exemplifica um dos problemas dessa sequência: seu ritmo lento. Desde o prólogo, as cenas se esticam demais sem necessidade. Dessa forma, resulta num filme de 1h47min, que não é tanto, mas que parece muito nesse filme. E o original tinha nesse quesito uma de suas virtudes, pois a trama se desenrolava rapidamente, como uma volta numa montanha-russa.
Virgem?
O roteiro, pelo menos, tira da frente uma questão que a modernidade tornou inadequada. As bruxas precisam sacrificar uma pessoa virgem para rejuvenescer. Mas, sendo um filme destinado ao público infanto-juvenil, as crianças obviamente não sabem o que isso significa. E, nessa sequência, um menino pergunta: “O que é uma pessoa virgem?”. É o filme fazendo graça de seu próprio defeito. Porém, nem todo o humor tem essa sagacidade. O enredo repete a já desgastada situação do desconhecimento em relação à modernidade. Vindas do passado, as bruxas ingenuamente acreditam que os cremes vendidos na farmácia rejuvenescem, que as portas automáticas se abrem por conta de magia, que uma pessoa está presa dentro da Alexia etc.
Mas uma mudança que dividirá os fãs é a abordagem em relação às bruxas. No filme de 1993, elas eram as vilãs, ainda que vilãs engraçadas e simpáticas. Afinal, elas queriam fazer o mal, assim como querem agora se vingar dos descendentes do sacerdote executor. Porém, desde o prólogo, o filme faz o público sentir pena delas, e isso fica evidente na conclusão. Independente dessa questão, Abracadabra 2 não é grande coisa (nem o original era), mas razoável o suficiente para também ganhar reprises no Halloween. E com um gancho para uma outra sequência com a nova geração de bruxinhas.
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Ficha técnica:
Abracadabra 2 | Hocus Pocus 2 | 2022 | 1h47 | EUA | Direção: Anne Fletcher | Roteiro: Jen D’Angelo | Elenco: Bette Midler, Sarah Jessica Parker, Kathy Najimi, Whitney Peak, Belissa Escobedo, Lilia Buckingham, Froy Gutierrez, Sam Richardson, Doug Jones.
Distribuição: Disney Plus.