Ação Mutante (Acción Mutante) marca a estreia de Álex de la Iglesia, um dos diretores mais importantes do cinema espanhol moderno, que ganha uma mostra especial no CCBB no Rio de Janeiro e em São Paulo.
O seu estilo rebelde, expresso na acidez rebelde desta sua obra inicial, ganhou apoio de outro cineasta espanhol igualmente revolucionário, Pedro Almodóvar. Já consagrado com filmes como Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), Ata-me (1989) e De Salto Alto (1991), Almodóvar assina a produção de Ação Mutante, junto com seu irmão Agustín. Inclusive, a primeira parte do filme indica nítida influência almodovariana na concepção artística. Embora seja uma ficção-científica, gênero ainda não explorado pelo famoso diretor, em meio ao seu cenário pós-apocalíptico há detalhes kitsch (presente na cama vermelha em forma de coração no prólogo, e evidente na cena do casamento, que tem a participação de Rossy de Palma, atriz dos filmes de Almodóvar) e ousadias sexuais (a família de tarados em Astúrias, planeta sem mulheres).
Uma via mais agressiva
No entanto, Iglesias prefere uma via mais agressiva. Explora a violência explícita, de maneira satírica, mas ainda assim nauseante. Por exemplo, o menino cutucando a ferida da sua vítima com sadismo. O tema pede, e o diretor aceita remeter a Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick, na cena de abertura. Dessa forma, extremamente violenta, ele apresenta o grupo de párias terroristas chamado Ação Mutante. Liderado por Ramón (Antonio Resines), o bando sequestra Patricia (Frédérique Feder), filha de um industrial milionário, na festa de seu casamento.
Até esse momento, o filme caminha em ritmo alucinante, apoiado por intervenções jornalísticas na TV que ajudam a acelerar a narrativa, como fez Paul Verhoeven em Robocop (1987). Os passos se tornam mais cadenciados na viagem do bando até o planeta Astúrias, onde trocarão a sequestrada pelo pagamento de seu resgate. Mas o conflito que surge entre os membros do Ação Mutante deixa a trama um bocado arrastada.
O longa melhora no seu terço final, quando Ramón e Patricia se deslocam pelo deserto do planeta Astúrias com destino ao local de resgate. No caminho, se deparam com a famigerada família de tarados sádicos que parecem saído de slashers como O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper. Tudo descamba numa carnificina geral no bar onde deveria acontecer a troca. Iglesias constrói uma mise-en-scène enlouquecida que compensa o desfecho dramático nada convincente.
De ousadia atordoante, Ação Mutante inicia a carreira de um cineasta que continuaria a realizar obras surpreendentes.
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Ficha técnica:
Ação Mutante | Acción Mutante | 1993 | Espanha | 93 min | Direção: Álex de la Iglesia | Roteiro: Álex de la Iglesia, Jorge Gerricaechevarría | Elenco: Antonio Resines, Frédérique Feder, Álex Angulo, Karra Elejalde, Saturnino García, Fernando Guillén, Jaime Blanch, Rossy de Palma.