A peça de teatro Borrasca, de Mário Bortolotto, estreia dia 2 de maio nos cinemas. A adaptação conta com o próprio autor como protagonista, ao lado de Eldo Mendes, e direção de Francisco Garcia, de Cores (2013).
O termo “borrasca” denomina um temporal que ameaça ser catastrófico, mas resulta apenas em uma chuva curta que não causa estragos. A estória do filme se inspira nesse fenômeno natural para questionar quais acontecimentos na vida de uma pessoa representam uma tempestade e quais apenas uma borrasca. O autor Bortolotto explica: “Às vezes acontece algo que a gente acha muito importante e é uma besteira. Em outras, uma coisa aparentemente banal acaba tendo muito significado”.
A ação da peça se concentra dentro de um apartamento, onde mora o escritor Gabriel, que recebe a visita de Diego, que chega do velório de um grande amigo. Apesar de contar apenas com dois atores em cena, o finado se torna o terceiro personagem, aquele que causa a discussão entre os amigos vivos. Afinal, a mulher de Gabriel o traiu com o falecido. Na conversa acalorada, refletem sobre liberdade, amizade, traição, solidão, amor e morte.
Amizade e superação
O diretor Francisco Garcia descreve Borrasca como: “Um filme de amizade sem superação. Como proposta estrutural de roteiro, não há grandes arcos dramáticos e plots, e sim um recorte da vida de dois personagens que tem suas vidas esvaziadas e sem sentido. Neste registro, as personagens foram retratadas de modo realista: pessoas comuns que facilmente se perdem no meio da multidão, não adequados, dilacerados e fora do lugar. O registro do tédio na metrópole e suas formas de vida tem como finalidade questionar a solidão, a morte, e mostrar as feridas abertas que movem (ou deixam de mover) as personagens, sem nunca apelar para a crítica de cunho moral.”
O filme foi rodado em praticamente duas madrugadas, de forma independente. Com recursos limitados, a melhor opção foi trabalhar com os atores que fizeram a peça no teatro, o próprio autor e Eldo Mendes. Sobre Bortolotto, Francisco Garcia diz:
“Já tinha dirigido ele anteriormente e tenho outros trabalhos de adaptação de seus textos. Então foi tudo muito natural. Sua única exigência era não modificarmos o texto para não descaracterizar a obra original. E durante o processo de ensaios e filmagem, o texto falou por si de uma maneira muito fluída e consegui cumprir minha palavra.” A parceria deu resultado e Bortolotto recebeu os prêmios de Melhor Ator no Festival de Santa Maria da Feira 2016 e Melhor Ator no CinePE 2017. Para Bortolotto, ser premiado “(…) sempre ajuda a prestarem mais atenção no filme tipo ‘vamos ver qual é’ e porque esse filme ganhou tal prêmio e se foi justo ou não. Ajuda a atiçar a curiosidade.”
Adaptação
Sobre a adaptação para o cinema, comenta o autor: “Houve um respeito da direção em relação ao texto e a nossa interpretação (já que o Eldo Mendes também já havia feito a peça e trabalha há muito tempo comigo) e em contrapartida total respeito da nossa parte em relação ao trabalho de direção do Francisco. Acho que a trilha apenas completa essa fidelidade ao universo retratado.”
Eldo Mendes, o companheiro de elenco de Bortolotto, tanto na peça como no filme Borrasca, comenta: “Ter feito esse longa com o Mário foi uma das melhores coisa que aconteceu na minha carreira. Primeiro porque acho o Mário um dos melhores dramaturgos da sua geração, além de um grande ator. Como ele é muito exigente e já tinha me dirigido na peça homônima, foi grande o desafio em ambas as oportunidades. Ele não deixa o ator pular uma vírgula do seu texto que seja. Ao mesmo tempo é um grande parceiro em cena. Me passa segurança. Um grande aprendizado. Uma honra.”
Borrasca estreia nos cinemas brasileiros em 2 de maio de 2019.
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