Num filme todo picotado, o espectador se afunda na confusão de Águas Selvagens, uma coprodução entre Brasil e Argentina.
No roteiro de Óscar Tabernise, profissional acostumado com produções televisivas, o excesso de cenas atrapalha o andamento da narrativa. A história demora para decolar, e quando começa, caminha a passos vagarosos. A trama, por isso, se arrasta por quase duas horas sem ir para a frente. Além disso, ao invés de ajudar a contar a história, a redundância de situações e personagens não essenciais complica a sua compreensão.
A impressão que temos, pela montagem recortada com tantas cenas, é que o diretor Roly Santos filmou ainda mais material, e precisou jogar fora boa parte dele. Com isso, ficou perdido em como juntar o que sobrou. Aliás, o uso frequente de fade-outs entre as cenas indica essa montagem disfuncional.
A premissa básica do enredo consiste na investigação do ex-policial Lúcio Gualtieri (Roberto Birindelli) para solucionar um crime na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. O irmão da vítima teme também ser assassinado, por isso quer que Lúcio acelere o processo policial em andamento. No local, Lúcio se envolve com a misteriosa Rita (Mayara Neiva), agora casada com um ex-colega seu da polícia. E precisa se desvencilhar do assédio de Blanca (Allana Lopes), uma menor de idade que trabalha como camareira no hotel. Então, conforme se aprofunda no caso, descobre indícios de tráfico de pessoas e pedofilia.
Direção fraca
Na tentativa de provocar o espectador, Águas Selvagens acaba mostrando demais os atos de pedofilia que Lúcio encontra gravados em vídeo. Essa repudiante cena incomoda, ainda mais porque o filme não caminha nesse tom sinistro; ou, se tinha essa intenção, então a direção não conseguiu produzí-lo. Nesse sentido, cabe apontar que os temas musicais não apontam para esse registro. A música é tremendamente clichê e os leitmotivs se repetem em excesso, contribuindo, assim, para tornar o filme ainda mais cansativo.
Para piorar, fica nítido que o diretor argentino Roly Santos não sabe dirigir cenas de ação. Na verdade, ele tem pouca experiência no cinema. Este é apenas o seu segundo longa-metragem, e o primeiro ele lançou em 2000. A troca de tiros entre Lúcio e um assassino profissional parece mais tiroteio de novela das oito do que um filme de suspense, como esse.
Como ponto positivo, encontramos pelo menos a construção do protagonista. A amargura por se ver afastado da filha que ama é bem convincente, e ainda explica sua atenção paterna com a jovem Blanca.
Para entender a história (Spoiler adiante)
A resolução da trama fica comprometida em meio a essa montagem claudicante com uma quantidade em excesso de cenas. Mas, aparentemente, Rita foi enganada quando jovem, e seu filho foi levado por esse grupo de pedófilos. Agora, para se vingar, ela e seu marido contratam um assassino profissional. Para se infiltrar no esquema, o casal finge interesse em comprar um bebê. Logo, um dos cabeças é morto, mas falta o outro, aquele que contrata Lúcio. E Lúcio cumpre sua função e elimina o matador de aluguel. Enquanto isso, Rita resolve, de fato, adotar o bebê. E parte para sua vingança sozinha.
Enfim, pelo menos, é o que conseguimos compreender desta mal escrita e mal filmada história.
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Ficha técnica:
Águas Selvagens | 2022 | 108 min | Brasil, Argentina | Direção: Roly Santos | Roteiro: Oscar Tabernise | Elenco: Roberto Birindelli, Mayana Neiva, Daniel Valenzuela, Leona Cavallli, Allana Lopes, Hélio Cícero, Luiz Guilherme, Mausi Martínez, Néstor Nuñez, Juan Manuel Tellategui.
Distribuição: Imagem Filmes.