Pesquisar
Close this search box.
Ainda Estou Aqui (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

Ainda Estou Aqui

Avaliação:
7/10

7/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

Ainda Estou Aqui (The In Between) possui uma história de amor poderosa, mas que sofre um pouco com a malconduzida inserção no espiritual. Parece uma busca por um Ghost – Do Outro Lado da Vida (Ghost, 1990) para uma nova geração e um público mais jovem. Inclusive, há uma cena que busca a mesma catarse provocada pelo reencontro dos personagens de Patrick Swayze e Demi Moore nesse filme. Mas, nem precisava percorrer esse caminho, pois os elementos principais de uma boa história romântica já estão presentes.

O amor entre os jovens Tessa (Joey King) e Skylar (Kyle Allen) durou apenas 182 dias. Acabou tragicamente no auge da paixão, no acidente automobilístico que abre o filme. Somente Tessa sobrevive, e acompanhamos a história do casal através de seu flashback. O diretor Arie Posin emprega bem uma diferenciação de cores para distinguir o que se passa no presente e no passado. As cenas de antes do acidente possuem uma cor mais natural, enquanto as posteriores possuem um filtro que as deixa com um leve tom azulado, que reflete a tristeza da personagem principal.

Personagens fortes

A construção dos personagens, pelo roteiro e pelos atores que os interpretam, garantem a força dessa história de amor. O meet cute, o momento em que os dois se conhecem, possui um charme único. Tessa entra num cinema para uma sessão especial do filme francês Betty Blue (37°2 le matin, 1986). Ela é a única na sala, até que entra Skylar. A cópia está sem legendas, o que dá a deixa para o rapaz se sentar ao lado dela e traduzir as falas para a garota. Amor à primeira vista, como era de se esperar. Apesar de não trocarem telefones na despedida, os dois se reencontram, pois moram em uma cidade pequena na Georgia (as filmagens principais aconteceram em Tybee Island).

Mas, Tessa e Skylar possuem diferenças suficientes para interromper essa paixão incontrolável. Tessa passou por várias famílias provisórias até ser definitivamente adotada por um ex-namorado da mãe biológica, depois que esta sumiu. Essa experiência a tornou uma pessoa fechada, centrada em seu interesse pela fotografia. E, apesar de ela ter talento para essa arte, ela prefere esconder as fotos para ela mesma. Por outro lado, Skylar é o típico jovem americano esportista e bonitão. Ademais, é também culto (fala três idiomas estrangeiros) e sensível. E, claro, não é mulherengo. A perfeição se espalha também em sua vida de filho único mimado. Porém, e até por isso, recebe mal a notícia de que seus pais estão se divorciando. Essas criações opostas criam desavenças que Tessa e Skylar precisam superar. Mas, não dá tempo de isso acontecer, pois acontece o acidente trágico.

A aceitação da perda

Em paralelo ao flashback desse envolvente romance, vemos como Tessa sofre por não conseguir aceitar a morte de Skylar. São momentos mais pesados, nos quais ela trata mal os pais, e até seu interesse pela fotografia parece esmaecer. Contudo, aparições cada vez mais fortes sugerem que o amado tenta fazer contato com ela. Não temos a perspectiva do fantasma, então, descobrimos junto com a protagonista qual é a mensagem que ele quer passar antes de partir. Esse é um ponto fraco nesse roteiro majoritariamente consistente, pois a revelação é simples demais, até um pouco frustrante. Porém, é suficiente para provar à própria Tessa que ela pode amar outras pessoas, e, inclusive, colocar esse sentimento para fora. Daí ela surgir diferente, expondo-se nas suas fotos, ao apresentar seu trabalho para a banca de admissão na universidade.

Jamais poderia nos separar

O roteiro cria, também, uma solução inteligente para inserir músicas dos anos 1980 no filme. O jipe que Skylar dirige é da mãe dele, um modelo antigo que ainda possui um toca-fitas. E as fitas cassetes com as playlists preferidas dela continuam no carro. Assim, “Never Tear Us Apart”, do INXS, se torna o tema do casal. Da mesma forma, vale apontar a boa sacada para criar a situação do primeiro beijo, em um desativado hotel para recém-casados. Logo depois, a expressão de Tessa demonstra que ela nunca sentiu uma paixão tão forte, e chora. Pena que um diálogo desnecessário entre os seus pais estrague esse momento, ao expressar o que o público já percebeu com mais impacto pelas imagens. “Ela só está assustada, porque ela gosta dele.”, diz a mãe.

O título original, “The In Between”, se refere ao lugar para onde você vai quando morre, segundo uma médium que Tessa conhece no hospital. É essa mulher que a ajuda a compreender as tentativas de contato de Skylar, algo em que ninguém mais acredita. Mas, boa parte das cenas após a tragédia possuem um ritmo lento e suas inserções longas interrompem o fluxo do crescente amor entre o casal, que representa a parte mais interessante de Ainda Estou Aqui. Além disso, outro problema é a personagem Shannon (Celeste O’Connor), a melhor amiga de Tessa. Suas falas são óbvias e tentam ser engraçadas, destoando do clima do filme. Há humor, sim, no filme, mas muito mais inspirado, nos diálogos entre Tessa e Skyler, desde o primeiro flerte no cinema.

Elenco, roteiro e direção

Joey King consegue aqui o melhor papel de sua carreira. Apesar de ser jovem (ela nasceu em 1999), ela já tem muitos créditos no cinema e televisão. Mas, em produções mais fracas, como os três filmes da franquia Barraca do Beijo (The Kissing Booth, 2018/2019/2021). Ou, ainda, os insípedos filmes de terror Slender Man (2018) e Mentira Incondicional (The Lie / Between Earth and Sky, 2018).

Já Kyle Allen começa a despontar agora como ator. Fez parte da temporada de 2018 de American Horror Story, e um papel pequeno em Amor, Sublime Amor (West Side Story, 2021). Seu primeiro protagonismo surgiu em O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas (The Map of Tiny Perfect Things, 2021). Tem potencial para se firmar como novo jovem galã hollywoodiano.

Definitivamente, boa parte do resultado de Ainda Estou Aqui se apoia no inteligente roteiro do experiente Marc Klein. São dele os roteiros de Escrito nas Estrelas (Serendipity, 2001), Um Bom Ano (A Good Year, 2006), dirigido por Ridley Scott, e Espelho, Espelho Meu (Mirror Mirror, 2012). Além disso, escreveu e dirigiu Sedução em Manhattan (Suburban Girl, 2007), estrelado por Sarah Michelle Gellar.

Por fim, o diretor Arie Posin realiza aqui seu terceiro longa. Antes, fez Más Companhias (The Chumscrubber, 2005) e Uma Nova Chance Para Amar (The Face of Love, 2013). São três filmes acima da média, portanto, vale a pena ficar de olho nesse cineasta. Principalmente, quando nos deparamos, em Ainda Estou Aqui, com a bela conexão da protagonista com a famosa fotografia dos casais se beijando em Paris em 1950, o “The Kiss by the Hôtel de Ville”, de Robert Doisneau.


Ainda Estou Aqui (filme)
Ainda Estou Aqui (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo