Air: A História Por Trás do Logo aposta no apelo das histórias de sucesso. Ainda que seja relacionada a uma grande corporação, o público gosta de ver finais felizes. Afinal, não é apenas no campo do romance que todos torcem para que tudo acabe bem. Neste filme, ajuda também que essa história envolva um ídolo incontestável dentro e fora do esporte, Michael Jordan.
Contudo, é verdade que esse apelo, nesse caso, fale mais forte para o público norte-americano do que para o brasileiro. Afinal, o basquete não tem a mesma popularidade por aqui como tem por lá. Considere, ademais, que o espírito capitalista não reina ileso em nosso país, e o sucesso nos negócios costuma provocar incômodo. Quanto a essa questão, Air: A História Por Trás do Logo, não intencionalmente, serve para dissipar quaisquer nuvens de desconfiança. Os seus personagens vencem jogando limpo, e o filme ainda faz questão de exaltar as destinações de boa parte da receita multimilionária de Michael Jordan para a caridade. Aliás, vale dizer, atitude pouco vista por aqui.
Por um lado, Air: A História Por Trás do Logo investe na nostalgia pelos anos 80. A abertura, por sinal, deleita quem quer recordar o que acontecia em 1984, ano em que se passa a sua história. Durante ela, a montagem desfila filmes, séries, comerciais, produtos e personalidades daquele tempo, embalada pela música “Money for Nothing” do Dire Straits. E, ao longo do filme, outras várias canções reforçam a época.
A negociação
O enredo acompanha Sonny Vaccaro (Matt Damon), o responsável por contratar atletas para a Nike patrocinar, desde o momento em que ele descobre o potencial (“a grandeza”, como ele diz) do jovem Michael Jordan. A partir daí, faz um esforço obstinado para que ele assine com a Nike e não com as concorrentes Adidas e Converse, que naqueles tempos eram as maiores do mercado.
Os personagens secundários contribuem na condução do público através de uma improvável jornada cativante sobre o que no fundo é uma negociação empresarial. Assim, o CEO da Nike é apropriadamente interpretado pelo diretor do filme Ben Affleck, constante parceiro criativo de Damon. E tem também Chris Tucker irreconhecível como o folclórico Howard White, peça essencial para aproximar a Nike e Michael Jordan e sua família. Acima de tudo, o filme dá importância à mãe, Deloris Jordan, que brilha nas telas com a interpretação de Viola Davis, fazendo jus ao papel de condutora da carreira do filho. Além disso, o longa ainda apresenta o nervosinho empresário de Jordan e o desenhista do tênis, ambos igualmente marcantes.
A grandeza de Affleck
Mas, por outro lado, pesa contra o filme o ato de ser uma trama com final amplamente conhecido – todos conhecem os tênis Air Jordan da Nike. Da mesma forma, o clímax dramático, quando Sonny despeja um discurso motivacional para fisgar Jordan, beira a pieguice, pois eleva o atleta a uma dimensão quase divina. Pelo menos, alivia esse problema a montagem esperta que comprova que as previsões dessa fala realmente aconteceriam na vida do jogador.
Por isso, Air: A História Por Trás do Logo serve como filme motivacional para ser recomendado por líderes e mentores empresariais. Mas vai além disso porque conta com a direção do inteligente diretor Ben Affleck. Devido a sua habilidade, o resultado possui um forte apelo dramático com alcance universal. A grandeza, para o espectador, está em Affleck.
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Ficha técnica:
Air: A História Por Trás do Logo | Air | 2023 | 112 min | EUA | Direção: Ben Affleck | Roteiro: Alex Convery | Elenco: Matt Damon, Jason Bateman, Ben Affleck, Chris Messina, Julius Tennon, Damien Delano Young, Chris Tucker, Matthew Maher, Gustaf Skarsgård, Viola Davis.
Distribuição: Warner Bros.