“Amor e Revolução”: indeciso entre drama politico e prisional
“Amor e Revolução” aborda um fato deplorável na história do Chile e da Alemanha. No sul do país latino, existiu uma colônia alemã chamada Dignidad, chefiada por Paul Schäfer. Ele era um ex-militar nazista que se fez passar por missionário religioso para ali praticar trabalho escravo e abuso sexual, inclusive pedofilia. E, na época da ditadura militar chilena, ainda cooperou com o governo de Augusto Pinochet para aprisionar e torturar presos políticos.
Golpe militar
O recorte da estória do filme se concentra neste período do início do golpe militar, em 1973. A aeromoça alemã Lena (Emma Watson, dos filmes de Harry Potter) aproveita a parada em Santiago para visitar seu namorado, o compatriota Daniel (Daniel Brühl). Mas, ele está envolvido no ativismo político em defesa do presidente chileno Salvador Allende. Então, quando explode o golpe, ele é preso e levado para Colonia Dignidad, onde é cruelmente torturado para que entregue quem são os outros apoiadores do movimento.
Corajosamente, Lena se disfarça de freira para ingressar na falsa missão religiosa liderada por Paul Schäfer (Michael Nyqvist), e acaba aprisionada e submetida a trabalho forçado. Logo, enquanto Daniel finge que a tortura o deixou louco, Lena tenta encontrá-lo para juntos escaparem do campo de concentração. Adicionalmente, ficam ainda mais desesperados quando descobrem que o governo alemão é conivente com as atrocidades do carrasco nazista.
Tortura
De fato, há muita tensão na primeira parte de “Amor e Revolução”, quando Daniel e Lena saem às ruas de Santiago em meio às atuações das patrulhas do exército golpista. Esse nervosismo eclode nas sessões de tortura que o jovem alemão dentro da colônia sofre, exibidas com fortes detalhes. Porém, a partir daí, o filme alivia demais a intensidade.
Dessa forma, deixa escapar oportunidades de ampliar o constrangimento do espectador. Principalmente nas cenas em que espancam uma das prisioneiras, Doro (Jeanne Werner), e quando Schäfer pratica pedofilia com os meninos do campo. Esses momentos pecam pela falta de ousadia e não provocam o impacto esperado. Não que o diretor alemão Florian Gallenberger devesse registrar violência necessariamente explícita, apenas poderia usar o talento para causar essa reação.
Falta de habilidade na direção
Provavelmente, Gallenberger não possui ainda essa habilidade, porque ele utiliza mal o posicionamento da câmera em algumas situações, para tentar provocar suspense. Por mais de uma vez, ele filma a cena posicionando a câmera atrás de janelas, galhos de árvores, pilares, dando a impressão errada de que alguém está espionando os personagens da ação. Então, esse recurso básico, amplamente utilizado em qualquer filme de terror, engana o espectador, que acaba se frustrando com a sequência. Além disso, há muitos clichês também. Por exemplo, quando a personagem Ursel (Vicky Krieps) prende a sua roupa durante uma fuga.
Enfim, “Amor e Revolução”, uma coprodução da Alemanha, Luxemburgo e França, não se decide entre ser um drama político ou um drama de prisão. Funciona enquanto opta pelo primeiro, mas perde o rumo quando trilha a segunda alternativa. Portanto, prefira “Desaparecido – Um Grande Mistério” (Missing, 1982), de Costa-Gravas, para assistir a um filme sobre o golpe militar no Chile.
Ficha técnica:
Amor e Revolução (Colonia, 2015) 110 min. Dir: Florian Gallenberger. Rot: Torsten Wenzel, Florian Gallenberger. Com Emma Watson, Daniel Brühl, Michael Nyqvist, Richenda Carey, Vicky Krieps, Jeanne Werner, Julian Ovenden, August Zirner, Martin Wuttke, Lucila Gandolfo, Stefan Merki.
Assista: Emma Watson fala sobre “Amor e Revolução”