O filme político E Amanhã… o Mundo Todo questiona como os movimentos antifascistas devem agir.
Através de uma estória baseada nas próprias experiências da diretora alemã Julia von Heinz durante sua juventude nos anos 1990, o filme acompanha o ingresso da protagonista Luisa no grupo P81. Ao invés de manter o relato no final do século passado, a cineasta optou por contá-lo no presente. Segundo o que ela diz em entrevista para o festival Film Fest Gent, essa decisão foi tomada diante do crescimento dos radicais de direita no mundo, de forma até mais perigosa do que em 1990. Provavelmente, desse risco vem o título original, que pode ser traduzido como “E amanhã o mundo inteiro”.
A história
No filme, acompanhamos Luisa, uma jovem de classe média em Mannhein, Alemanha, cursando o primeiro ano de Direito. Eventualmente, ela resolve seguir a sua melhor amiga Batte e se junta ao movimento antifa P81. E, já na primeira manifestação do grupo, ela se destaca ao se apoderar do celular de um segurança de um partido radical de direita. Além de ser aceita, ela passa a morar na sede do P81.
Em paralelo, ela faz amizade com dois membros: Lenor, o especialista em TI, e o impulsivo Alfa, que defende o uso da violência para combater os radicais de direita. Então, os três invadem o galpão do grupo opositor e leva algumas evidências do nazismo e até alguns explosivos. E como contraponto, o ato coloca o movimento P81 sob vigilância da polícia. Dessa forma, levanta a questão no grupo sobre até que ponto eles devem chegar para defender sua causa.
Análise do filme
Nesse sentido, E Amanhã… o Mundo Todo claramente assume sua posição política. Afinal, não satisfeitos com a aplicação prática das leis, os personagens principais decidem que a melhor saída é explodir o galpão dos radicais de direita. Apesar de esse desfecho estar incorporado a uma situação particular, e o filme sempre se restringe à perspectiva de Luisa, fica uma sensação de alto risco, à beira de uma guerra civil.
Adicionalmente, o filme é tenso o tempo todo. Afinal, ao seguir Luisa, a câmera está em constante movimento, muitas vezes em ponto de vista subjetivo. Além disso, a protagonista se aproxima cada vez mais do explosivo Alfa, e logo será mais radical que ele.
Enfim, E Amanhã… o Mundo Todo é um filme poderoso. E até perigoso, se usado como incitação à violência. Mas extremamente necessário nos tempos atuais, quando perigoso mesmo é ficar alheio aos movimentos radicais.
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Ficha técnica:
E Amanhã… o Mundo Todo (Und morgen die ganze Welt) 2020. Alemanha/França. 111 min. Direção: Julia von Heinz. Roteiro: John Quester, Julia von Heinz. Elenco: Mala Emde, Noah Saavedra, Tonio Schneider, Andras Lust, Luisa-Céline Gaffron, Nadine Sauter, Ivy Lissack.
Assista ao trailer original:
Nota: assistimos a esse filme nas sessões da THE WRAP AWARDS & INTERNATIONAL SCREENING SERIES.