Anne Frank, Minha Melhor Amiga conta a perspectiva de Hannah Goslar sobre a menina judia que se escondeu dos nazistas num sótão em Amsterdã. Anne Frank registrou esse período em um diário, cuja publicação a tornou famosa postumamente. O filme assume que o espectador conhece essa história, pois o roteiro se mantém fiel às memórias de Hannah, que pensava que sua amiga Anne partira para a Suíça.
No início, Anne e Hannah dividem o protagonismo, quando em 1942 as duas meninas de 13 anos curtiam a adolescência em Amsterdã. Apesar de obrigadas a circularem com a estrela que as identificava como judias, elas ainda não tinham consciência de quão grave era a situação delas na Holanda ocupada por nazistas. Assim, as vemos felizes, brincando juntas e jurando serem amigas para sempre, retrato importante para o filme usar como contraste com a vida no campo de concentração em 1945. Estes momentos duros nos campos entram recorrentemente na história, intercalados com a vida antes de serem capturadas, e sob a perspectiva exclusiva de Hannah. Até então, demora um pouco para distinguirmos facilmente quem é Anne e quem é Hannah, já que as duas aparecem como personagens principais.
Um retrato fiel
Feita a distinção, o filme inova ao retratar uma Anne Frank desinibida, mais avançada nas primeiras descobertas sexuais do que Hanna Goslar, ainda bem ingênua a respeito. Ademais, Anne é mais atrevida, inclusive quanto aos militares nazistas e às recomendações do pai, e socialmente extrovertida. O enredo não explora, mas quem conhece a história de Anne Frank percebe, com isso, como deve ter sido sacrificado para ela se isolar no sótão. A trama deixa esses aspectos de fora, e nem sequer produz suspense quando Hannah visita Anne e não a encontra porque ela já está escondida. Nesse ponto, o filme se mantém respeitoso às memórias de Hannah, pois poderia brincar com a expectativa do público, colocando a personagem perto da porta que leva ao esconderijo.
Por outro lado, Anne Frank, Minha Melhor Amiga busca a emoção no clímax dramático do reencontro breve, através de uma fresta no campo de concentração. As duas se sentem felizes por se verem de novo, e o flashback ressalta a amizade. No entanto, Anne está muito enferma, e Hannah heroicamente se arrisca para lhe levar comida. Nesse momento, Anne revela que ficou escondida no sótão, mas o filme não faz disso uma grande surpresa. Por isso, o espectador que conhece essa história pode ter uma experiência mais forte do que aquele que não sabe quem é Anne Frank.
Outras produções sobre Anne Frank
Para quem quer conhecer a história de Anne Frank recomendamos os seguintes filmes e séries, entre os vários que existem. O melhor deles é O Diário de Anne Frank (The Diary of Anne Frank, 1959), de George Stevens, indicado a oito Oscars, incluindo melhor filme, melhor diretor, melhor ator (Ed Wynn) e melhor atriz coadjuvante (Shelley Winters). O filme foi vencedor nesta última categoria, bem como por melhor fotografia em preto-e-branco e melhor direção de arte em preto-e-branco.
Se a preferência é um relato documental, a dica é A Lembrança de Anne Frank (Anne Frank Remembered, 1995). Dirigido por Jon Blair, conta com narração de Kenneth Branagh, Glenn Close. Há, também, #AnneFrank – Parallel Stories (2019), de Sabina Fedeli e Anna Migotto, disponível na Netflix.
Vale a pena, também, conhecer a minissérie Anne Frank: The Whole Story (2001), de Robert Dornhelm, com Ben Kingsley, Hannah Taylor Gordon e Tatjana Blacher. São dois episódios que totalizam três horas, mas inéditos no Brasil. Outra minissérie elogiada é O Diário de Anne Frank (The Diary of Anne Frank, 2009), dirigido por Jon Jones. Dividida em cinco episódios com um total de 2h30min, traz Ellie Kendrick como Anne Frank e Felicity Jones como Margot Frank.
Com direção competente do rodado diretor Ben Sombogaart, Anne Frank, Minha Melhor Amiga consegue ser fiel à perspectiva de Hannah Goslar, como seu título pressupõe. Porém, com isso, não impacta tanto quanto o relato da própria Anne Frank. Serve mais como complemento à história desta, que retratou tão bem seu drama num diário.
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Ficha técnica de “Anne Frank, Minha Melhor Amiga”:
Anne Frank, Minha Melhor Amiga | Mijn beste vriendin Anne Frank | 2021 | 103 min | Holanda | Direção: Ben Sombogaart | Roteiro: Marian Batavier, Paul Ruven | Elenco: Aiko Beemsterboer, Josephine Arendsen, Roeland Fernhout, Lottie Hellingman, Björn Freiberg, Hans Peterson, Stefan de Walle, Zsolt Trill, Tünde Szalontay.
