Produzida pela Fantaspoa, Antologia da Pandemia é uma seleção de curtas metragens produzidos em diversos países durante o isolamento social de 2020 causado pelo Coronavírus. O que os une é o gênero, todos dentro do cinema fantástico.
13 filmes
Assim, os treze títulos alternam o tom dessa coletânea, alguns se voltando ao subgênero terror, outros à ficção-científica, e alguns com temas políticos e sarcásticos. Com durações variadas, lembra a série Love, Death & Robots, da Netflix, que apresenta uma seleção de filmes com essas diversidades dentro do fantástico.
Mas, estando agora no meio do isolamento social da pandemia, a pré-disposição para assistir essa antologia parece pequena. Nesse caso, ao invés do escapismo, o cinema (em casa) nos leva a encarar a atual realidade que enfrentamos. E não estamos lidando com o gênero comédia, então, a impressão que temos é que esses curtas nos podem afetar negativamente, aumentando as ansiedades dessa dura situação.
No entanto, Antologia da Pandemia, felizmente, não causa esse efeito, porque os temas são variados, e algumas estórias nem estão relacionados ao covid-19, e entraram na seleção porque foram produzidos durante o isolamento. Nesse caso, o que conta é a criatividade de realizar uma produção com poucos recursos e confinado dentro de casa. “Baldomero”, por exemplo, é uma sátira aos relacionamentos virtuais, fenômeno que não é fruto da pandemia. O terror sobrenatural/psicológico “A Mancha na Parede” aborda a solidão, e “Pique Esconde Macabro” e “Desenterrado” adaptam situações clássicas do cinema de terror.
Diferentes abordagens
Por um lado, como essa situação grave de saúde assumiu polarizações políticas, como nos EUA e no Brasil, essa faceta da realidade também é retratada aqui em dois curtas: “Estúpidermia” e “Psicopompo”.
Por outro, alguns cineastas lançam um olhar sarcástico sobre a crise atual. “Roleta Russa” mostra quatro amigos em um jogo letal usando o vírus como arma. O curta “Barata” critica os aproveitadores que tentam lucrar com a pandemia, no caso usando o papel higiênico que sumiu dos supermercados no início do lockdown nos EUA.
Além disso, como era de se esperar, muitos filmes retratam uma situação apocalíptica pós-pandemia, Nesse sentido, lançam estimativas de 10 meses, 2 anos e 2153 dias de isolamento social, prevendo que somente gatos sobreviverão (“Jérome: Um Conto de Natal”), que nenhum humano se salvará (“Quarentena Sem Fim”) ou que o vírus é obra de aliens (“O Último Dia”). Zumbis, claro, não podiam ficar de fora dessa mostra, como vemos em “Às Vezes Ela Volta”.
E todos os títulos possuem uma visão pessimista, exceto, talvez o curta “Eclosão”, que prevê que o vírus é uma etapa da evolução da espécie humana.
Recursos restritos
Enfim, considerando as restrições de recursos que todos os cineastas enfrentaram, podemos, mesmo assim, apontar os melhores curtas de Antologia da Pandemia. Pela realização, destacam-se “Quarentena Sem Fim”, “A Mancha na Parede”, “Às Vezes Ela Volta”, “Roleta Russa” e “O Último Dia”. Alguns dos filmes, porém, estão abaixo do esperado.
Em conclusão, como um longa-metragem, assistindo todos os curtas de uma só vez, merece elogios a variedade de subgêneros e de abordagens sobre o tema central. Antologia da Pandemia representa um registro vital desse evento único na história da humanidade, e por isso ganhará relevância maior com o tempo.
Relação dos curtas em Antologia da Pandemia:
- Às Vezes Ela Volta, de Matheus Maltempi (Brasil) (foto)
- Baldomero, de Martín Blousson (Argentina)
- Eclosão, de Alejo Rébora (Argentina)
- Estúpidemia, de Junior Larethian (Brasil)
- Jérôme: Um Conto de Natal, de Beatriz Saldanha (Brasil)
- O Último Dia, de Guillermo Carbonell (Uruguai)
- A Mancha na Parede, de Daniel Pires (Brasil)
- Pique Esconde Macabro, de Julio Napoli Filho (Brasil)
- Psicopompo, de Giordano Gio (Brasil)
- Quarentena Sem Fim, de Fabrício Bittar (Brasil)
- Barata, de Emerson Niemchick (EUA)
- Roleta Russa, de Andreas Kyriacou (Chipre)
- Desenterrado, de Karl Holt (Reino Unido)
Ficha técnica:
Antologia da Pandemia (Antologia da Pandemia, 2020) Brasil. 80 min. Dir: Matheus Maltempi, Martín Blousson, Alejo Rébora, Junior Larethian, Beatriz Saldanha, Guillermo Carbonell, Daniel Pires, Julio Napoli Filho, Giordano Gio, Fabrício Bittar, Emerson Niemchick, Andreas Kyriacou, Karl Holt. Rot: Fabrício Bittar, Martín Blousson, Guillermo Carbonell, Julio Napoli Filho, Giordano Gio, Karl Holt, Andreas Kyriacou, Junior Larethian, Matheus Maltempi, Emerson Niemchick, Daniel Pires, Alejo Rébora, Beatriz Saldanha