O thriller francês Armadilha Explosiva (Déflagrations) possui no centro de sua trama uma bomba prestes a detonar. Ou seja, a contagem regressiva já está presente, sem necessidade de um subterfugio para aumentar o suspense. O roteiro aproveita eficientemente esse trunfo, e seus primeiros trinta minutos são eletrizantes. Esse segmento acompanha, aproximadamente em tempo real, os esforços para desativar a bomba dentro do prazo do temporizador. Porém, o filme fica, também, refém dessa contagem regressiva. E a uma hora restante se torna bem menos interessante.
Os personagens em perigo constituem uma família, ingrediente eficiente para engajar o público. No volante do carro, está Sonia, uma especialista em desarmar bombas. No banco de trás, seu filho Thomas e Zoé, a filha de seu namorado Fred, que fica do lado de fora do carro, no subsolo de um estacionamento em Paris. O casal trabalha na mesma empresa, mas Fred não entende nada de bombas, pois é o contador. Então, chegam mais dois especialistas, Igor e Camille, para tentar salvar a todos. Além deles, surge do porta-malas outro colega, François, envolvido num suborno em nome da empresa. Aliás, um personagem dispensável, que o roteiro às vezes deixa de lado, sem saber o que fazer com ele.
Detalhes técnicos, vingança e política
Parte do desinteresse nos sessenta minutos mais fracos do filme é culpa dos detalhes técnicos que envolvem os procedimentos para desarmar a mina antitanques que está debaixo do carro. Pode-se louvar a preocupação em garantir a credibilidade da trama, mas essas especificidades tornam esse thriller demasiadamente lento.
Por outro lado, a história evita ser superficial em relação à motivação dessa ameaça com bomba. Com isso, acaba trazendo o atualíssimo tema da guerra na Ucrânia, com certeza não prevista pelos roteiristas quando escreveram o enredo. A empresa francesa de desarmamento agiu no país para descontaminar um terreno infestado com minas. Mas, assim, deixou o caminho livre para ataques contra civis, inclusive uma escola, onde estudavam as filhas da pessoa que agora quer vingança. Enfim, o motivo da retaliação fica evidente, e faz sentido, mas a presença da responsável ali no estacionamento soa muito forçada.
Há também uma implicação política, que critica a ação da empresa contratada para desarmar minas sem tomar conhecimento das implicâncias desse serviço. No filme, um empresário pagou a empresa de desarmamento porque estava interessada em construir uma usina no local, que é rico em urânio. Isso não é essencial para a trama, mas reforça a revolta da mãe que perdeu seus filhos e que agora quer se vingar.
Porém, o que realmente é dispensável é a subtrama da propina recebida pelo colega dentro do porta-malas. Além de ele quebrar o laço familiar dentro do veículo, e sua dramaticidade, ainda faz um discurso de arrependimento que só torna a trama mais arrastada. Ademais, ele dirige palavras de convencimento ao filho da protagonista Sonia, que poderiam ser emocionantes se ditas pela própria mãe.
Direção competente
Estreando na direção, o cineasta Vanya Peirani-Vignes realiza um trabalho competente, apesar de o roteiro ter suas falhas de ritmo. Afinal, a primeira meia hora possui muito suspense na luta contra o tempo para parar o cronômetro; e, na conclusão, o uso do slow motion antes e depois da explosão consegue evidenciar a tristeza das personagens pela morte do amigo.
O resultado é um filme irregular, mas que vale por seus bons momentos de suspense.
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Ficha técnica:
Armadilha Explosiva | Déflagrations | 2021 | 91 min | França | Direção: Vanya Peirani-Vignes | Roteiro: Vanya Peirani-Vignes, Pablo Barbetti | Elenco: Nora Arnezeder, Pierre Kiwitt, Rasha Burkvic, Sara Mortensen, Edouard Montoute, Marius Blivet, Lewine Weber, Alika Del Sol, Olga Korotyayeva.
Distribuição: A2 Filmes.