As Aventuras de Gulliver (Gulliver Returns, 2021) entra na lista de animações do leste europeu que emulam as grandes produções estadunidenses. A Rússia é a que mais lança esses filmes, como O Reino Gelado (2012) e Um Lobo em Pele de Cordeiro (2016). Geralmente, as técnicas de animação são de segunda e a história cheia de clichês.
Aqui, a concepção visual dos personagens parece um produto genérico. Não trazem nada de original e se parecem com uma mescla de outros personagens de outros desenhos. Mas, as técnicas de animação em si não comprometem, e passam tranquilamente aos olhos do espectador médio.
A desmistificação de um gigante
Já a história, escrita pelo profissional de televisão dos EUA Michael Ryan, traz uma abordagem diferente para a história escrita por Jonathan Swift e publicada em 1726. Essa nova história desmistifica o personagem Lemuel Gulliver, o homem que, em uma das aventuras do livro original, desembarcou em Lilliput, uma ilha habitada por pessoas minúsculas. Neste filme, após 40 anos, Gulliver é chamado de volta para a ilha para ajudar os seus moradores a enfrentar o exército inimigo da ilha Biefuscu. Porém, todos descobrem que ele não é de fato um gigante. Na verdade, o rei criou essa lenda por causa de seus feitos heroicos. E, Gulliver deixou de ser a pessoa honrada que era antes, e vive uma vida de pirata, roubando tesouros dos reinos pelos quais passa. Então, ele precisa se modificar e reunir coragem para ajudar seus amigos liliputianos.
Provavelmente, Michael Ryan tentou, mas não conseguiu vender esse roteiro, com essa abordagem ousada, para uma produtora norte-americana. Afinal, ela mexe com um clássico da literatura, expurgando a fantasia nela contida. Por isso, sua única saída foi vender para essa coprodução da Ucrânia e do Chipre.
A direção
Assim, o projeto caiu nas mãos do diretor Ilya Maksimov, cujos mais recentes trabalhos foram para a televisão. O resultado é um filme de animação com muita ação, mas também com momentos de falação exagerada. Um dos pontos negativos que mais pesam é a citada concepção do desenho dos personagens, todos sem um diferencial que consiga despertar um apego emocional por parte do público. Como ponto positivo, destaca-se o uso das canções em poucos e acertados momentos. Em As Aventuras de Gulliver, os personagens cantam para contar o que aconteceu no passado e para explicar algum ponto. E, são músicas bonitas, que alinhadas o folk rock da trilha, ajudam a relevarmos os defeitos do filme.
Mas, ficamos com a impressão de que os produtores americanos estavam certos em não dar o sinal verde para esse roteiro. A fantasia é essencial para o público-alvo do filme, o infantil. Então, por que limá-lo desse ingrediente?
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Ficha técnica:
As Aventuras de Gulliver | Gulliver Returns | 2021 | Ucrânia, Chipre | 90 min | Direção: Ilya Maksimov | Roteiro: Michael Ryan | Vozes de: Wayne Grayson, Alyson Leigh Rosenfeld, Tyler Bunch, Billy Bob Thompson, Tom Wayland.
Distribuição: Imagem.