As Aventuras de Uma Francesa na Coréia já é o 31º longa do prolífico diretor Hong Sang-soo, e o 3º com a atriz Isabelle Huppert. Novamente, filmando o cotidiano, característica que o aproxima do cinema de Eric Rohmer que, por sinal, dirigiu Huppert em vários filmes. Mas, é um cotidiano que incita a busca por significados. E o espectador que não aceitar esse desafio corre o risco de sair da sessão pensando que assistiu um filme sobre o nada.
Enigmas do dia-a-dia
O estilo minimalista de Hong Sang-soo integra o jogo de elipses de informações. O primeiro segmento de As Aventuras de Uma Francesa na Coréia se desenvolve em cima desse conceito. Nele, Iris (Isabelle Huppert) inicia um truncado diálogo em inglês com uma moça coreana. Em um plano longo, com a câmera fixa, se torna difícil decifrar qual a relação entre elas. Para deixar tudo ainda mais enigmático, Iris escreve uma anotação em francês, e depois a moça se levanta e vai até um piano, e começa a tocar (a câmera acompanha o seu movimento). A conversa continua num jardim público, onde Iris recebe um pagamento da jovem.
Somente na sequência seguinte a situação fica clara, quando Iris encontra uma potencial nova aluna para suas aulas de francês. É isso o que ela fazia no segmento anterior. Mas, por usar um método de ensino peculiar, era mesmo difícil o espectador descobrir. Iris tenta aplicar o processo que criou, fazendo as mesmas perguntas que fez à sua outra aluna – e obtém, curiosamente, repostas parecidas.
A metade seguinte do filme mostra a relação afetuosa entre Iris e o jovem coreano Inhuk (Ha Seong-guk), com quem ela está morando. A diferença de idade entre eles não representa nenhum obstáculo entre eles. No entanto, uma visita surpresa da mãe de Inhuk pode desestabilizar esse equilíbrio. Após Iris deixar o apartamento para dar espaço para mãe e filho conversarem, o questionamento fica nervoso. Logo depois, enquanto a mãe serve uma comida ao filho, num ato apaziguador, surge uma sequência genial que reúne flashback com o tempo presente. Em seguida, Inhuk encontra Iris no parque onde a conheceu, e a francesa já sabe que a conversa com a mãe provocou mudanças.
De estrangeira a cidadã
Hong Sang-soo retrata Iris como uma estrangeira que quer se estabelecer na Coréia do Sul. E, para isso, precisa entender os modos e costumes dos habitantes desse país. Por isso, pergunta a uma desconhecida na rua o que significa o texto escrito num painel em frente a um prédio. Ao mesmo tempo, necessita de um meio de ganhar o seu sustento, uma moradia, e um relacionamento afetivo. Então, busca um novo método para ensinar francês, atividade que nunca exerceu antes. Ao repetir as perguntas às alunas, descobre o que há de comum entre elas. Além disso, aprende o que a figura da mãe representa numa família coreana. Assim, com esses novos conhecimentos que ela vai obtendo, ela poderá se adaptar ao local onde pretende viver.
A vontade de morar na Coréia do Sul aparece implicitamente. Visualmente, no verde de sua blusinha, que combina com a cor do chão e do muro de um quintal onde ela se senta. Dessa intenção vem também seu ato de grudar uma fita adesiva verde numa caneta coreana (uma espécie de caneta Bic de lá), como se quisesse abraçar essa cultura. Por fim, seu anseio igualmente se revela na troca do seu gosto nativo por beber vinhos por grandes quantidades de makgeolli. Na filmografia de Hong Sang-soo, Iris talvez seja uma evolução da personagem de Huppert para A Visitante Francesa (2012), passando por A Câmera de Claire (2017) e culminando em As Aventuras de Uma Francesa na Coréia.
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Ficha técnica:
As Aventuras de Uma Francesa na Coréia | Yeohaengjaui Pilyo | 2024 | 90 min. | Coréia do Sul | Direção: Hong Sang-soo | Roteiro: Hong Sang-soo | Elenco: Isabelle Huppert, Lee Hye-young, Kwon Hae-hyo, Cho Yun-hee, Ha Seong-guk, Kim Seung-yoon.
Distribuição: Pandora Filmes.
Trailer:
