O sensível drama romântico As Montanhas Se Separam apresenta três contos sobre a vida conectados por uma estrutura narrativa original.
O filme começa em 1999, com a protagonista Tao, com 25 anos, curtindo sua juventude dançando alegremente em turma ao som de “Go West”, do Pet Shop Boys. A sua forte amizade com Liang e Jinsheng se rompe quando os dois rapazes começam a disputar o seu amor. O pretendente mais rico, Jinsheng, acaba vencendo a disputa, e o desiludido Liang foge para outra cidade. A estória dá espaço para os três personagens demonstrarem seus sentimentos, e o público sente empatia com cada um deles. Ficam evidentes a tristeza de Tao por perder a amizade com Liang, a paixão obsessiva de Jinsheng, e a desilusão amorosa de Liang.
Esse primeiro relato sobre o triângulo amoroso se encerra quando nasce Daole, filho de Tao e Jinsheng. O nome da criança reflete a palavra “dólar”, revelando o quanto seu pai prioriza o dinheiro.
Só então, após 45 minutos, aparecem na tela o título e o crédito do diretor do filme, tornando a sequência inicial um dos mais longos prólogos do cinema. Que, aliás, encerra uma história em si, com começo, meio e fim.
Em 2014 e 2025
O filme retoma a narrativa em 2014, focando em Liang. Casado e com um bebê, ele perde seu modesto trabalho, e é obrigado a retornar à casa onde morava na juventude. Mas ele é diagnosticado com câncer, e precisa procurar uma ajuda financeira para seu tratamento. O auxílio vem de Tao, que está divorciada de Jinsheng. Esse segmento intermediário coloca a perda como tema central, e Tao enfrentará a morte de uma pessoa muito amada, e o distanciamento do seu filho pré-adolescente, que vive sob custódia do pai. Por isso, temos a imagem de um garoto carregando uma foice na rua.
A parte final se passa no futuro, em 2025, o que é outra ideia original, pois coloca na narrativa um tempo que ainda não aconteceu, depois de contar fatos passados. E se passa na Austrália, para onde Jinsheng se mudou com o filho e a nova mulher, que já não está mais com ele. Daole só fala em inglês e não se entende com o pai, por causa do idioma e das diferenças de opinião. Esse segmento mostra o envolvimento de Daole com uma mulher mais velha e sua angústia por não ter reencontrado sua mãe de novo.
A direção de Jia Zhang-ke
O diretor Jia Zhang-ke apresenta em As Montanhas Se Separam um belo trabalho com elementos que aparecem no filme e são retomados posteriormente. Um deles possui até um toque de fantasia, que é o cachorro de Tao, que aparece nos três segmentos, como se fosse o elo temporal conectando a estória. O engraçado é que na primeira parte Tao e Jinsheng comentam que o cachorro viverá até 2014, justamente quando se inicia o segundo segmento do filme. E o cachorro sobrevive até 2025.
Porém, o elemento mais marcante é a música. A canção pop cantonesa “Take Care”, da cantora Sally Yeh, aparece também nas três partes do filme. E a música de abertura do Pet Shop Boys ressurge no emocionante final, marcando a celebração da vida pela atitude de Tao, diante dos altos e baixos da sua jornada. Aliás, como indica seu próprio nome, que significa “ondas” e que reforça a ideia de elementos que vão e voltam.
As Montanhas Se Separam é filmado com primor. Jia Zhang-ke consegue contar três histórias independentes como se fossem segmentos de uma saga familiar. E sem deixar que a tecnicidade atrapalhe a sensibilidade, presente nos seus três segmentos.
Ficha técnica:
As Montanhas Se Separam (Shan he gu ren, 2015) China/França/Japão. 126 min. Dir/Rot: Jia Zhang-ke. Elenco: Tao Zhao, Yi Zhang, Jing Dong Liang, Zijian Dong, Sylvia Chang, Sanming Han, Lu Liu, Zishan Rong.