Às Vezes Quero Sumir (Sometimes I Think About Dying) se embrenha no mundo dos introvertidos. Primeira produção da diretora indie Rachel Lambert que alcança certa distribuição, conquista alçada pela repercussão no Sundance Film Festival, onde conseguiu indicação ao prêmio do júri, o filme traz o atrativo de contar com Daisy Ridley no papel principal.
A estrela da última trilogia Star Wars interpreta Fran, que vive sozinha numa pequena cidade gelada do Oregon. No pequeno escritório onde ela trabalha, ela não se envolve nas conversinhas dos colegas, de quem prefere manter um distanciamento seguro. Isola-se no seu cubículo, e só participa dos pequenos eventos do grupo por obrigação, como na despedida de uma senhora que vai se aposentar. Prefere, ao invés, imaginar que está em outro lugar, o que dá oportunidade para Rachel Lambert experimentar com o surrealismo (por exemplo, a enorme cobra no escritório com apenas uma mesa de trabalho). Uma imagem recorrente, inclusive, dá vazão ao título original, e traz Fran morta, deitada no meio da floresta.
Mas o filme mostra que esse bloqueio social não é uma opção, e sim um obstáculo que aprisiona Fran em sua concha sufocante. Por isso, quando um novo empregado começa no escritório, após uma troca de mensagens via email, ela se sente minimamente segura para uma aproximação. Talvez porque ele, Robert (Dave Merheje), também tenha um motivo para se sentir inseguro, pelo menos profissionalmente. Afinal, ele confessa que é a primeira vez que ele assume um emprego.
Não é um típico filme romântico
No entanto, baseado na peça “Killers”, de Kevin Armento, Às Vezes Quero Sumir está longe de ser um típico romance. Os encontros com esse potencial primeiro amor de Fran estão longe de ser uma maravilha. Sem cair nas armadilhas das soluções fáceis do cinema hollywoodiano, a moça cria bloqueios que a impedem de encarar a vida com um olhar menos tenso. E será que o duas vezes divorciado Robert terá paciência com ela?
Enxuto, com poucas cenas, o filme se assemelha a um conto literário. E sem uma conclusão definida. Para os otimistas, Fran aprende a se soltar um pouco com seu passo em direção à apreciação do cinema, paixão maior de Robert. O fechamento com a canção “With a Smile and a Song” deixa essa esperança.
A força de Às Vezes Quero Sumir está em sua capacidade de retratar as dificuldades de relacionamento de uma pessoa extremamente introvertida. Porém, isso também revela sua fraqueza, ao impedir a expressão do que se passa na cabeça e no coração da protagonista. Fechada em si mesma, dela o roteiro não pode nem revelar os motivos que levaram a sua autoclausura. Ainda assim, é um filme que absorve o espectador, ao sempre privilegiar o imprevisível.
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Ficha técnica:
Às Vezes Quero Sumir | Sometimes I Think About Dying | 2023 | 94 min | EUA | Direção: Rachel Lambert | Roteiro: Stefanie Abel Horowitz, Katy Wright-Mead | Elenco: Daisy Ridley, Dave Merheje, Parvesh Cheena, Marcia DeBonis, Megan Stalter, Brittany O’Grady, Bree Elrod.