O diretor Ryusuke Hamaguchi realizou Asako I & II (2018) antes de se consagrar com Drive My Car (2021). Em ambos, o tema central se concentra nos relacionamentos pessoais. São dramas cotidianos, que não dispensam o peculiar das situações individualizadas. Se o ganhador do Oscar de melhor filme internacional apresenta a particularidade de uma roteirista que cria suas histórias enquanto faz amor, aqui uma jovem encontra um homem idêntico à grande paixão de sua vida.
A jovem é a protagonista Asako, personagem-título do filme interpretada por Erika Harata. Ela se apaixona arrebatadoramente quando vê um belo rapaz, Baku (Masahiro Higashide), nas ruas. Persegue-o para conhecê-lo e logo se beijam. Começam a sair juntos. Numa noite, durante a festa na casa de um amigo, Baku resolve sair de repente, diz que vai comprar pão, mas só retorna no dia seguinte. Era o prenúncio para o que ele viria a fazer seis meses depois, quando vai comprar sapatos e nunca mais retorna. Descolado, o rapaz cheio de entusiasmo pela vida, não toleraria as amarras de um relacionamento sério.
Dois anos depois, Asako encontra um rapaz fisicamente idêntico a Baku. Porém, ele possui personalidade oposta ao do antigo amor da moça. Ryohei se veste formalmente, e trabalha com afinco na área de marketing de uma empresa. Logo, os dois começam a namorar, e, dada a personalidade de Ryohei, o relacionamento é duradouro. Passam-se cinco anos, e eles planejam se mudar juntos para uma casa nova. Porém, um dia antes da mudança, Baku reaparece e desestabiliza Asako. Com qual dos dois ela ficará? Essa é a questão que o filme levanta para provocar a reflexão sobre o que é mais importante no caráter da pessoa com quem você quer viver.
Beleza à parte
Se são idênticos, a beleza não influencia a decisão de Asako. Após alguns momentos desse reencontro com Baku, ela percebe que ele continua o mesmo. Não dá importância para o celular que toca por causa de uma ligação do trabalho. Aliás, até destrói o aparelho. Asako replica a situação, e joga fora seu celular após receber chamadas e mensagens de Ryohei e de sua melhor amiga. E, viajam rumo à casa do pai de Baku. Mas, ele desvia e para no caminho porque quer ver o mar. A simbologia é clara, ele não quer compromisso, não quer rotas definidas. E, isso inclui relacionamentos. Asako não é assim, quer amigos e uma vida mais definida. Ao comunicar que quer voltar para Ryohei, Baku simplesmente lhe diz: “Bye bye.”. E, os dois seguem seus caminhos.
Como em Drive My Car, o diretor Ryusuke Hamaguchi evoca Anton Tchekov. Mas, em Asako I & II sua presença é menos intensa. Ele surge numa peça que a amiga de Asako interpreta nos palcos. Porém, a ideia sobre suas adaptações é a mesma: “Não interprete as suas falas”, diz um dos personagens. Desta vez, esse argumento se encaixa na proposta de não julgar as pessoas. Baku e Ryohei possuem ambos qualidades e defeitos. “O rio é sujo, mas é bonito”, declara, por fim, Asako.
Não é tão contundente como Drive My Car. O andamento é similar, mas não se aprofunda tanto no seu tema principal. Mesmo assim, seus personagens principais são concretos e humanos, o que mantém o espectador sempre atento. Em suma, uma obra em evolução.
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Ficha técnica:
Asako I & II | Netemo sametemo | 2018 | Japão, França | 119 min | Dierção: Ryusuke Hamaguchi | Roteiro: Sachiko Tanaka, Ryusuke Hamaguchi | Elenco: Masahiro Higashide, Erika Karata, Sairi Ito, Koji Nakamoto, Koji Seto, Misako Tanaka, Daichi Watanabe, Rio Yamashita.
Distribuição: Zeta Filmes.