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Ataque dos Cães (filme)
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Ataque dos Cães | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Quando Phil (Benedict Cumberbatch) vai almoçar no restaurante de Rose (Kirsten Dunst), fica clara a diferença de modos entre ele e o irmão, George (Jesse Plemons). Phil revela-se monstruoso, queima um pequeno buquê de flores de papel feito pelo filho de Rose, Pete (Kodi Smit-McPhee), além de o tratar com enorme desprezo por causa da sensibilidade mais delicada do rapaz. George observa tudo com reprovação, mas nada faz, a não ser, mais tarde, pedir Rose em casamento. Ela aceita, e vai morar na fazenda da família, onde George vive só com o irmão, tendo os pais afastados na cidade. Assim são os primeiros minutos de Ataque dos Cães (The Power of the Dog, 2021), de Jane Campion. Somos apresentados aos quatro personagens principais da trama e o que eles representam. Mas o filme vai operar uma curiosa inversão de expectativas.

Rose era viúva. Seu marido, pai de Pete, era alcoólatra e se suicidou por enforcamento. Ela vive sob esse preconceito de ser a ex-esposa de um suicida, num momento rude localizado no início do século. Ela também começa a beber, principalmente para ter de aguentar essa presença nefasta que é Phil vivendo sob o mesmo teto.

Do outro lado, é todo um bem-estar que se vai para Phil, desde o não poder mais ficar sem tomar banho na mesa de jantar até conviver com essa presença feminina que para ele é desagradável. Algo então acontece na cabeça e no coração de Phil após ter flagrado Pete o observando enquanto ele se banhava no rio. Ele passa a tentar se tornar amigo de Pete, agindo como um tio, encarregado de ensinar ao rapaz modos masculinos.

Nesse sentido, não tenho como deixar de lembrar de dois filmes capitais de Vincente Minnelli. O primeiro é Chá e Simpatia (Tea and Sympathy, 1956), em que as noções de masculinidade são questionadas. O segundo, com o qual o filme de Campion se assemelha ainda mais, é Herança da Carne (Home From the Hill, 1960), que mostra um patriarca tentando reeducar o filho, até então educado pela mãe, tornando-o um espelho de si mesmo, caçador e machão.

Nessa operação, sugestões de homossexualidade aparecem aqui e ali, uma delas explícita e envolvendo um movimento com a corda, feito por Phil, que sugere uma masturbação, enquanto Pete o observa com atenção. É nesse momento que Phil conta que Bronco Henry, o melhor cowboy que já viu, salvou sua vida uma vez, quando o abraçou nu para dormirem num saco de dormir, mantendo os corpos aquecidos. Fica sugerido que Phil e Bronco Henry tiveram um caso, ou queriam ter, não necessariamente pela necessidade de escapar do frio informada por Phil, mas pela emoção desprendida no relato. Depois, o movimento é outro, já que a ponta da corda passa por um buraco para originar um laço, servindo como uma clara metáfora do ato sexual.

A corda é um importante elemento de metáforas em Ataque dos Cães. Ela tanto pode levar ao enforcamento quanto representar a união entre duas pessoas. Para Phil, que vive fazendo cordas, é a sua capacidade de estar no mundo, sua maneira de criar laços, não tanto com sua família, embora o irmão seja importante, mas principalmente com a natureza – é com o couro dos animais que ele faz suas cordas, e a simples doação do couro para uma família indígena faz com que ele se desespere.

O subtexto homossexual fez com que muita gente comparasse o filme a O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005), de Ang Lee. Mas a relação com o cinema de Lee me parece outra. Em filmes como Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility, 1995) e Cavalgada com o Diabo (Ride With the Devil, 1999), mas de certo modo em toda sua obra americana, Lee sempre tentou aliar alta intensidade artística, sobretudo no cuidado com detalhes que fazem a diferença, a uma certa noção comercial dentro do tipo de cinema visado a premiações. É um dos poucos diretores a fazer essa união de propósitos e ser quase sempre bem-sucedido. Outra cineasta que trabalha nessa chave, sobretudo desde O Piano (1993), é Jane Campion, sendo igualmente bem-sucedida na maioria das vezes. Ataque dos Cães é mais um capítulo nesse sentido.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Ataque dos Cães | The Power of the Dog | 2021 | Reino Unido, Austrália, EUA. Canadá, Nova Zelândia | 126 min | Direção e roteiro: Jane Campion | Elenco: Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst, Jesse Plemons, Kodi Smit-McPhee, Geneviève Lemon, Kenneth Radley, Sean Keenan.

Distribuição: O2 Play / Netflix

Trailer:
Onde assistir "Ataque dos Cães":
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