Em Até o Cair da Noite (Bis ans Ende der Nacht), o gênero policial cede espaço para o melodrama romântico. Esse fenômeno reflete o que acontece no próprio enredo. No filme, o investigador Robert (Timocin Ziegler) usa a detenta Leni (Thea Ehre) para se aproximar do traficante de drogas Victor (Michael Sideris). Mas, a paixão que Robert sente por Leni acaba se sobrepondo aos seus deveres profissionais.
Ecos de Fassbinder
O melodrama e os personagens em desespero nesse quinto longa de Christoph Hochhäusler lembram os filmes de outro diretor alemão, Rainer Werner Fassbinder (1945-1982). A presença de uma personagem trans (Leni, vivida pela atriz igualmente trans Thea Ehre, que ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel), sem que a trama levante tabus a respeito, acrescenta outro elemento presente em Fassbinder. Há uma certa teatralidade também, com diálogos fortes que são essenciais para a narrativa.
No aspecto visual, porém, Hochhäusler não chega perto da genialidade do mestre do Novo Cinema Alemão. Embora acerte na movimentação horizontal da câmera (a montagem com vários planos que deslizam para a direita numa cena de amor é um dos pontos altos do filme), Hocchäusler usa enquadramentos feios e, em muitos trechos, deixa desfocado um personagem importante na cena. Por isso, Até o Cair da Noite se torna um filme visualmente feio, distante do estilo de Fassbinder.
Melodrama policial
A proposta de transvestir a obra como um filme policial, mas tendo sua essência dentro do melodrama funciona bem. Como consequência, enquanto as cenas de ação são confusas, os trechos que reforçam o amor impossível (pelo menos durante essa missão infiltrada) ganham força. Entre eles, o beijo entre os amantes através da porta de vidro do carro. Já a conclusão, que remete a Monika e o Desejo (Sommaren med Monika, 1953), de Ingmar Bergman, e Os Incompreendidos (Les quatre cents coups, 1959), de François Truffaut, soa como um clichê. Nela, Leni olha para a câmera após revelar sua verdadeira faceta.
O diretor
Nascido em 1972, o arquiteto Hochhäusler completou uma segunda formação em direção na Universidade de Televisão e Cinema de Munique. Seu primeiro longa, Milchwald, estreou no Berlinale Forum em 2003, e foi bem recebido pela crítica. Em sua trajetória, também atuou como jornalista cinematográfico, inclusive como fundador e coeditor da revista de cinema Revolver. Por fim, vale ainda destacar que, ao lado de Dominik Graf e Christian Petzold, dirigiu e criou a minissérie Dreileben (2011).
Portanto, seu histórico promete. Se Até o Cair da Noite não é ainda o seu grande filme, vale pelo menos ficar de olho nos próximos trabalhos de Christoph Hochhäusler.
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Ficha técnica:
Até o Cair da Noite | Bis ans Ende der Nacht | 2023 | 120 min | Alemanha | Direção: Christoph Hochhäusler | Roteiro: Florian Plumeyer | Elenco: Timocin Ziegler, Thea Ehre, Michael Sideris, Ioana Iacob, Rosa Enskat, Aenne Schwarz, Sahin Eryilmaz, Kasem Hoxha.
Distribuição: Imovision.
Assista ao trailer aqui.
