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Poster do filme "Até Que a Música Pare" (divulgação)
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Até Que a Música Pare

Avaliação:
7,5/10

7,5/10

Crítica | Ficha técnica

Até Que a Música Pare, da diretora gaúcha Cristiane Oliveira, parece filme de prestígio feito em algum país asiático.  Aproxima-se do cinema tailandês de Apichatpong Weerasethakul, pelo ritmo lento, pela forte relação com a natureza, mas principalmente pela solução espiritual diferente das crenças ocidentais.

Em seu longa anterior, A Primeira Morte de Joana (2021), Cristiane Oliveira contou com uma protagonista adolescente. A trama começava com a morte da tia da menina, depois partia desse luto para o despertar da sexualidade. Em Até Que a Música Pare, a personagem principal, Chiara (Cibele Tedesco), já entrou na velhice. Seu luto se iniciou antes do enredo, com a morte do filho Marco. Porém, um novo vazio surge na abertura do filme, quando o último filho sai de casa. Para fugir da solidão de ficar sozinha o dia inteiro, Chiara resolve acompanhar o seu marido Alfredo (Hugo Lorensatti) nas suas visitas diárias aos clientes, em seu velho carro Del Rey. Nessas saídas, descobre que ele bebe vinho nas paradas e volta a dirigir, e que ele vende produtos sem nota fiscal.

Nesse ínterim, Chiara, católica fervorosa, vai a um almoço da família, e fica intrigada com as explicações do noivo de sua sobrinha sobre o budismo. Em especial, a respeito da reencarnação. Assim, no lugar da adolescente que descobre sua sexualidade, aqui temos uma senhora da terceira idade se abrindo para uma nova filosofia espiritual. Simbolicamente, essa transição acontece quando ela leva a imagem da santa católica que ficou em sua casa por uns dias e a entrega para a vizinha, nesse processo de estadia itinerante.

A luz

Sob essa nova perspectiva, Chiara começa a desenhar novas conexões sobre os pontos que mais a incomodam, e que dizem respeito ao comportamento de seu marido. Assim, permite-se acreditar que a tartaruga recém-nascida que Alfredo trouxe para casa recentemente possa ser a reencarnação de seu filho falecido. Além disso, a ideia do karma enfatiza a importância dos atos impuros que Alfredo vem praticando, pois são manchas que sua alma carregará pela eternidade. Chiara, dessa forma, se torna a luz que guiará o marido no caminho da retidão e da remissão da culpa que o atormenta pela morte do filho.

Cristiane Oliveira filma esse roteiro com planos longos, câmera fixa, evitando que as muitas cenas, que colocam os personagens em movimento, não acelerem o ritmo. Nesse sentido, as inserções de planos gerais da paisagem rural do sul gaúcho, bem como o silêncio predominante em alguns trechos, permitem que o espectador exercite a sua reflexão, em harmonia com a protagonista. Por outro lado, vozes do filho morto reiteradamente atormentam Chiara. O budismo, recém-descoberto por ela, mostra o caminho para ela encontrar a paz que ela e o marido necessitam.

Por fim, faz-se necessário explicar que parte dos diálogos é em Talian, língua brasileira surgida da mistura do Português com as línguas dos imigrantes que vieram do Norte da Itália para o Brasil no século dezenove.

Até Que a Música Pare, assim, revela uma cineasta consistente, capaz de tratar temas diferentes mantendo as características de um cinema autoral. Ao que parece, o seu melhor ainda está por vir.

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Ficha técnica:

Até Que a Música Pare | 2023 | 97 min. | Brasil, Itália | Direção: Cristiane Oliveira | Roteiro: Cristiane Oliveira | Elenco: Cibele Tedesco, Hugo Lorensatti, Nicolas Vaporidis, Elisa Volpatto, Teti Tedesco, Tamara Zanotto, Jonas Piccoli, Cleri Pelizza, Magali Quadros, Valderez Formigheri, Edu Segabinazzi, Guilherme Rachel, Alexandre Lazzari, Luiza Helena Dias, Lucas Nunes.

Distribuição: Pandora Filmes.

Trailer:

Onde assistir:
Cena do filme "Até Que a Música Pare" (divulgação)
Cena do filme "Até Que a Música Pare" (divulgação)
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